Nas estradas e encruzilhadas da vida, liberto das roupagens da vaidade e da jactância, tento merecer esta minha condição de ser vivo.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

02 - VIVO E DESNUDO * Dlim-dlão!


TEMPO DE SORTILÉGIO 

Dlim-dlão! 








A Torre da Má Hora tem um sino. 

Esventram os silêncios os seus dobres… 

Dlim-dlão! Dlim-dlão! Dlim-dlão! 

Se olhares bem, na solidão descobres 

a dor do fim nuns olhos de menino 

que nada já conseguem ver… Dlim-dlão! 



São olhos velhos de esperar cansados 

que se cumprisse o sonho de menino… 

O sonho vão chegando ao fim… Dlim-dlão! 

E tremem os silêncios despojados- 

Na Torre da Má-Hora toca o sino: 

Dlim-dlão! Dlim-dlão! Dlim-dlão! 



Manhã após manhã, promete o dia 

a renovada chama da esperança, 

e, à ceia, serve a noite a frustração. 

E assim, é nesta intérmina porfia 

que dói, que desespera mas não cansa, 

que se resiste ao lúgubre dlim-dlão… 



Ah, mas em todos nós palpita e grita 

o testemunho ousado e solidário 

da força do querer em construção… 

Ousemos ir além desta desdita 

que nos mantém reféns deste fadário 

e há tanto nos imola no dlim-dlão. 





José-Augusto de Carvalho 
Alentejo, 26 de Fevereiro de 2018.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

02 - POESIA VIVA * Ousadia



TEMPO DE SORTILÉGIO 

Ousadia 




A memória rompeu o negrume 

e chegou com as vestes do mito. 

É História nas lendas que assume 

um Passado a querer-se interdito. 



São imagens dos tempos perdidos? 

São palavras ou ecos vadios 

que martelam os nossos ouvidos, 

alta noite, a carpir desvarios? 



Somos isto: um alforge pesado, 

carregado de angústias e medos 

ou a herança do Pégaso alado 

que cantaram os velhos aedos? 



Que com Pégaso ousemos os astros 

e os vindouros nos sigam os rastros!... 





José-Augusto de Carvalho 
Alentejo, 13 de Fevereiro de 2018.