Nas estradas e encruzilhadas da vida, liberto das roupagens da vaidade e da jactância, tento merecer esta minha condição de ser vivo.

domingo, 28 de setembro de 2014

01 - POSIÇÃO * Assim sou, assim estou


(Escultura de Rodin / Foto Internet, com a devida vénia)



Nas estradas e encruzilhadas da Vida,

liberto das roupagens da vaidade e da jactância,

tento merecer esta minha condição de ser vivo.

..
Vivo e desnudo,

assim intervenho,

enquanto a transitoriedade em que vou mo permitir...

sábado, 27 de setembro de 2014

05 - REFLEXÕES * Questionando

Recupero de texto já publicado a excelente frase de um meu conterrâneo: «Só todos juntos sabemos tudo.»

Arrisco afirmar que esta frase tem um alcance invulgar e, por isso mesmo, deveria figurar em todos os manuais de conduta.

Várias vezes, em conversas com gente da minha gente, encontro sugestões que considero de grande valia conducentes a aprofundar situações e a estudar soluções.

Evidentemente que estas conversas dificilmente chegarão ao conhecimento de quem conduz os nossos destinos.

E se aqui não discuto a legitimidade de quem tem o poder de decidir, já discuto a perda destas sugestões, até porque relevarão em valia muitas das decisões que são tomadas.

Todos sabemos ser tarefa de qualquer poder político a gestão quanto baste das necessidades correntes; mas também todos sabemos que qualquer força política tem a sua ideologia e desta decorrem definidas propostas de melhoria de uma qualquer situação em análise, das muitas situações que existem e que vão muito para além das supracitadas necessidades genéricas correntes.

Por tudo isto, será de colocar estas interrogações:

Como chegámos aqui?

Por que chegámos aqui?

Será que o Povo aceita passivamente quanto o Poder Político decide?

Que motivos levaram o Povo ao distanciamento, ao afastamento da res publica?

Que motivos levaram o Povo a assumir posições claras nos actos eleitorais, quer abstendo-se, quer votando em branco, quer votando nulo, em percentagens relevantes?

Será que as forças políticas estão esticando a corda até esta se partir?

Será que as forças políticas se recusam a ver que estão deficientemente servindo a democracia --- Democracia enquanto Poder do Povo?

Se, etimologicamente falando, Democracia é igual a Poder do Povo, fica claro que democracia sem povo é coisa nenhuma. E é isto que me preocupa enquanto cidadão.

Até sempre!

Gabriel de Fochem
26 de Setembro de 2014.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

10 - JORNAL DE PAREDE * Pátria Transtagana


Salão da Junta de Freguesia de Aguiar
11 de Outubro de 2014, 15.30 horas

sábado, 20 de setembro de 2014

05 - REFLEXÕES * «Eu só sei que nada sei»


Diz a sabedoria popular que «quem semeia ventos, colhe tempestades». Isto é, dito de outra maneira: há os que provocam as situações e depois se queixam das consequências.

Há outra aparentada: a de quem provoca ardilosamente uma situação e, depois, se obtém o êxito esperado, responsabiliza o(s) incauto(s).

Estas serão as mais perigosas e poderão ter, porventura, a sua fixação no aforismo «paga o justo pelo pecador». Assim me arrisco a supor no sentido doloso que assume a autoria da armadilha contra a credulidade e talvez imprevidência de quem nela cai ou dela é vítima.

Tudo o que digo decorre de quanto tenho notícia.

Ora sabemos o que vai pelo mundo nestes tempos que temos de viver. Exactamente por isso, apenas aqui registo o que todos sabemos, ainda que, é bem verdade, todos nós, de vez em quando, sejamos vítimas desta ou daquela armadilha, quer por distracção, quer por absorvidos por preocupações.

Que fique claro que neste e noutros registos não pretendo rotular ninguém de ignorante e muito menos ensinar seja o que for. Não julgo ninguém, porque não sou juiz; não ensino ninguém, porque não sou professor. Sou apenas um cidadão que presume ter aprendido o que Sócrates, o tão justamente celebrado filósofo grego, ensinou a toda a Humanidade, entre outras coisas: «Eu só sei que nada sei.»

Até sempre!

Gabriel de Fochem

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

04 - FANTASMAS DA MEMÓRIA * A angústia de Silvério


Arrastava-se o ano de 1965. Em África, a guerra colonial impunha aos naturais das proclamadas províncias ultramarinas uma nacionalidade duvidosa e um regime sem alma.

Portugal vai do Minho a Timor!

Portugal não é um país pequeno! E sobre o mapa da Europa projectava-se toda a geografia colonial.

A grandeza de um país media-se em quilómetros quadrados!

As caravelas de antanho pretendiam-se ressuscitadas agora na violência e na opressão!

O quinto império, que jamais o do Padre António Vieira, havia de impor-se sob a vontade de um fantasma medieval!

As trevas da Inquirição dita santa estavam de regresso!

A impiedade sacrílega e profana dos senhores da vida e da morte proclamava a sua vontade!

Os domesticadores do destino ditavam a Lei da Força!

E as asas privadas da sua sede de infinito!

E um povo triste que sofria, em silêncio!

Subversiva, uma resistência clandestina dizia não!

Arrastava-se o ano de 1965…

No quarto, pobremente mobilado, a espera pesava. Sentado na cama, ausente de tudo e de todos, Silvério. Quem era? Mais um desenraizado, trazido à cidade grande, onde cabia todo o desespero do mundo.

Aqui, Portugal era Lisboa… e o resto só paisagem!

Nos campos desertos, o tempo parara. A guerra, nas Áfricas!

E as Franças e as Alemanhas, a ânsia dum destino, a salto!

Na rua, erguia-se o palco e representava-se a farsa: Portugal não é um país pequeno!

Cabisbaixos, os transeuntes tentavam ignorar o drama que eram forçados a representar.

Autocarros, eléctricos, automóveis. O vaivém rotineiro da cidade grande.

A chinfrineira de um eléctrico despertou-o. Circunvagou o olhar. Lá estava o monte de livros, empilhados, no chão. Lá estava o guarda-fato, com o seu espelho indiscreto, reflectindo ausência.

Tenho de decidir-me. Ou fico ou parto. Esta indecisão não me leva a nada. E se ficar, como resistir, sozinho? Seria uma loucura e um suicídio. E se partir, para onde irei? E como iria? De comboio, de barco ou de avião é impossível. Ainda que tivesse passaporte, a polícia política não mo permitiria. A hipótese seria a França, mas como atravessar a Espanha até aos Pirenéus sem um passador e sem dinheiro bastante para pagar-lhe? Estou encurralado. Ficarei.

Pressurosa, a senhora Mariana, sua compreensiva hospedeira, uma mulher simples do povo sem voz, perguntou, timidamente, do corredor:

--- O senhor Silvério chamou? Pediu alguma coisa?

--- Não, não chamei, senhora Mariana. Estava pensando em voz alta… --- respondeu aborrecido por aquela fraqueza. --- Que diriam as pessoas ouvindo-o falar sozinho?

Os passos da senhora Mariana, no corredor, de regresso à cozinha, esmoreceram-se e o silêncio pesado regressou ao quarto.

Anoitecia. O movimento, na rua, era, agora, menor. A fraca iluminação semeava sombras e medos. Uma saudade vaga e nebulosa da infância e do tempo perdido doía-lhe no peito.

A noite caíra.

A senhora Mariana bateu discretamente na porta e perguntou:

--- O senhor Silvério não acha que se faz tarde para jantar?

--- Hoje não me apetece. Desculpe não lhe fazer companhia. Merendei tarde e dói-me a cabeça.

Pesado, o silêncio impôs-se definitivamente.

Lá fora, a brisa fresca do outonal Novembro levava para longe as folhas amarelecidas das árvores que assombravam a rua solitária.

---

José Augusto de Carvalho
Lisboa, 1969
Revisto em 16 de Julho de 2014.
Viana *Évora*Portugal

domingo, 7 de setembro de 2014

05 - REFLEXÕES * O candidato


A reflexão que o leitor lerá a seguir decorre de uma casualidade, casualidade relevante, porque me permitiu alinhavar estas considerações, que partilho.



Ouvi, há dias, um diálogo curioso. Não cometo nenhuma inconfidência ao referi-lo, porque ocorreu em lugar público e sem qualquer indício de sigiloso. Nem o tema era merecedor de recato.

O tema em discussão era definir o perfil de um candidato a um cargo directivo. Como bem se compreende, tema importante; e a preocupação igualmente compreensível.

É importante o perfil de um candidato e não menos importante é votar num candidato com perfil ajustado à função a que se propõe.

O interessante do diálogo era a preocupação incidir sobre a popularidade do candidato a encontrar. Em boa verdade, não foi manifestada preocupação pela capacidade.

Este meu reparo coincidirá com algumas observações habituais de muitos eleitores sobre candidatos: “este é simpático”; “aquele nunca se ri”; “não gosto da cara daqueloutro” ; e por aí…

Nada tenho a opor às apreciações que cada um faz e declara ou cala. Tenho, sim, que sejam ou possa ser determinantes na sua decisão de votar.

Sustento, e muitos me acompanham nesta posição, que a decisão de votar, de escolher, afinal, deve assentar na competência e nos valores que qualquer candidato comprovadamente defende.

Mais sustento, e aqui também não estou sozinho, que deveremos mais privilegiar a prática quotidiana do candidato do que os seus discursos de campanha.

Sustento ainda, e finalmente, que será sempre ideal questionar o candidato, de preferência em sessões de esclarecimento, porque as respostas que der às perguntas que lhe forem dirigidas serão matéria para reflexão e posterior decisão quando o eleitor for chamado a votar, isto é, a escolher quem considera mais apto para o cargo político ou outro.

Espero que o leitor não esteja propondo meditação sobre a inexistência de sessões de esclarecimento. Se for esse o caso, dir-lhe-ei que um candidato que se oponha a sessões de esclarecimento não terá o meu voto.

Até sempre!

Gabriel de Fochem
7 de Setembro de 2014.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

08 - CIDADANIA * Tempos difíceis


Nestes tempos que vivemos, os acontecimentos que nos desgostam e/ou nos indignam sucedem-se a um ritmo avassalador.
Sei que é recorrente esta afirmação, mas nem sempre há a predisposição para o silêncio. Como diz o velho rifão: Um homem não é de ferro!
Vivemos tempos difíceis!
Vivemos tempos difíceis, fundamentalmente devidos à acção despudorada do Homem.
Em todas as latitudes, há violência: a violência da fome; a violência da carência; a violência da intolerância; a violência do esbulho; a violência dos conflitos armados; a violência dos jogos obscenos de poder e de opressão.
Hoje, os telejornais abrem, via de regra, com notícias de desgraça, de desprezo pela Vida, de insulto e humilhação.
Vivemos tempos difíceis!
A globalização da desumanidade e da infâmia é a realidade de todas as horas.
E se é verdade em termos globais, adentro do nosso pequeno mundo também as coisas não irão melhor.
Hoje, pessoa amiga visitou-me para me dar a notícia da morte de alguém que bem conhecíamos. Este facto banal não motivaria a redacção de qualquer texto. Afinal, morrer é a consequência natural de qualquer ser vivo. A Morte vive connosco. É a única certeza que temos nesta vida!
O que motivou estas linhas foi constar que a pessoa morreu há três ou quatro dias e só ontem se ter sabido.
Esta funesta ocorrência levanta a interrogação: os Centros de Saúde, as Juntas de Freguesia, as Câmaras Municipais não têm sinalizadas as pessoas em risco, designadamente as que vivem sozinhas?
É com desgosto e indignação que vivo estes dias de desumanidade e violência.
Li, há anos, um texto de autor brasileiro, cujo nome não recordo, no qual, uma personagem dizia: «Se o mundo é isto, parem o «bonde» (carro eléctrico), porque eu quero sair.»
Até sempre!
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José-Augusto de Carvalho
3 de Setembro de 2014.
Viana*Évora*Portugal