“Caos estrelado”, um livro de poemas
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José Carlos Dinardo. poeta brasileiro, ofereceu-me um exemplar do seu livro “Caos estrelado”. Sinto nesta oferta o imenso abraço unindo, mais uma vez, dois países e um idioma comum.
José Carlos Dinardo e eu devemos este relacionamento recente a José Arrabal, escritor brasileiro de créditos firmados, amigo de há muitos anos de fraternas andanças e cumplicidades éticas, estéticas e humanas.
Um livro de poemas não se lê… vai-se lendo e degustando, porque em cada leitura quase sempre se alarga e se aprofunda o mundo próprio do poeta. E esta nótula é importante para antecipadamente confirmar releituras.
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Da primeira leitura de “Caos estrelado” permito-me salientar: o poeta se me apresenta como um observador do que vê, do que intui, do que sente, daqui partindo para desvendar e nos revelar emoções, interrogações, expectativas e perplexidades, mas também anseios e (in)certezas futuras.
No poema inaugural --- demolição, é casada a saudade do que se perdeu com a esperança do que se pode obter. Será, porventura, a recuperação de Lavoisier na celebrada máxima “nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.
No poema amanhecer, é intuída a antemanhã radiosa do milagre de nascer.
No poema “Rosa da segunda-feira”, o fim-de-semana anterior é lamentado como uma perda, como uma ilusão, como um falhanço. Se parece evidente a alusão ao mundo do trabalho, onde é comum se descansar ao fim de semana, fica difícil apreender o pensamento do poeta se este cantar, como eu entendi, aquele fim-de-semana como se fosse o último.
No poema “Aprendizado”, é cantado o elogio da metamorfose – “deixando casulos ocos, voarei borboleta.” Dito em linguagem chã, o esforço é premiado.
No poema “Matricial”, são ensaiadas combinações dos vocábulos mulher/poema/vivo; os vocábulos escolhidos e as diversas combinações encontradas demonstram como se encontra a sublimação na singeleza.
No poema “Eco da infância”, encontramos o petiz descobrindo a natureza e a sua frustração perante o avô que, voluntariamente alheado, deixa o neto descobrir e descobrir-se sozinho.
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Estou convicto de que a breve referência que fiz aos primeiros poemas do livro “Caos estrelado” será suficiente para despertar o interesse dos leitores. Se é verdade, e eu assumo que é, que nos outros nos descobrimos e logo os outros em nós se descobrem, ler “Caos estrelado” é uma possibilidade a ponderar. Aliás, ler é uma possibilidade a ponderar… sempre! Viver sem livros é que será uma impossibilidade e uma fatalidade.
José-Augusto de Carvalho
Alentejo * Portugal
8 de Junho de 2019.