Nas estradas e encruzilhadas da vida, liberto das roupagens da vaidade e da jactância, tento merecer esta minha condição de ser vivo.

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

07 - B R A S I L * Josué de Castro


Josué de Castro * Médico e pesquisador brasileiro


Josué de Castro (1908-1974) foi médico, pesquisador e professor brasileiro. Pesquisou os problemas da fome e da miséria no Brasil. Realizou conferências e estudos sobre a fome em vários países. Foi professor em diversas universidades no Brasil e da Universidade de Vincennes, na França.

Josué de Castro (1908-1974) nasceu no Recife, Pernambuco, no dia 5 de setembro de 1908. Filho de Manoel Apolônio de Castro, proprietário de terras, e de Josepha Carneiro de Castro, professora, de família de classe média vinda do sertão do Estado. Fez seus primeiros estudos em casa, com sua mãe. Foi aluno do Colégio Carneiro Leão e depois ingressou no Ginásio Pernambucano. Foi para o Rio de Janeiro estudar Medicina na Faculdade Nacional de Medicina do Brasil, onde permaneceu durante seis anos.

Em 1929, já formado, volta para o Recife, preocupado com as condições de saúde da população. Encontrou a cidade num período de agitação política pela campanha da Aliança Liberal e pela Revolução de 30. Manteve-se longe da militância político-partidária. Desenvolveu trabalhos de pesquisas em problemas ligados à alimentação e habitação, em diversos bairros operários da capital pernambucana.

Seus estudos o levaram a descobrir que a fome era uma verdadeira catástrofe social. Era contra a afirmação de alguns estudos que admitiam que a fome era decorrente das condições físicas, climáticas e étnicas. Concluiu que o desnível social resultava das estruturas econômicas e sociais impostas no período colonial e mantidas nos períodos Imperial e Republicano. Em 1932, escreveu o livro "Condições de Vida das Classes Operárias do Recife". Era professor de Fisiologia na Faculdade de Medicina do Recife.

Após a Revolta Comunista de 1935, Josué transferiu-se para o Rio de janeiro, lecionou Antropologia na Universidade do Distrito Federal e realizou trabalhos em missões do governo federal. Em 1936, publicou o livro "Alimentação e Raça". Em 1939, é convidado oficial do governo italiano para realizar conferências nas universidades de Roma e de Nápoles, sobre "Os Problemas de Aclimatação Humana nos Trópicos.

Josué de Castro passou a trabalhar, a partir de 1940, no Serviço de Alimentação e de Previdência Social (SAPS), e fundou a Sociedade Brasileira de Alimentação. Foi convidado oficial de vários países para estudar os problemas de alimentação e nutrição, esteve na Argentina em 1942; Estados Unidos, em 1943; República Dominicana e México, em 1945 e França em 1947.

Em 1946, publicou o livro "Geografia da Fome". Em 1951, Josué foi eleito presidente do Conselho da Food and Agricultural Organization (FAO), passando a viajar por vários países e visualizar os problemas da fome, sobretudo nos países sub-desenvolvidos. Suas idéias foram publicadas no livro "Geopolítica da Fome", em 1952.

Josué de Castro foi deputado federal por Pernambuco, pelo Partido Trabalhista Brasileiro, de 1954 a 1958 e de 1958 a 1962. Nesse último ano, foi designado embaixador do Brasil na Conferência Internacional de desenvolvimento, em Genebra, na Suíça. Em 1964, o presidente João Goulart foi deposto por um golpe militar, e Josué teve seus direitos cassados, perdendo o cargo de embaixador.

Exilado, transferiu-se para Paris, onde foi nomeado professor de Geografia da Universidade de Vincennes, onde desenvolveu pesquisas e viajou para diversos países da Europa, África e América Latina, que procuravam seu apoio.

Josué de Castro morreu em Paris, no dia 24 de setembro de 1974.



segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

20 - CORREIO * Informação



Estimados leitores:

Neste espaço ora criado serão publicados textos meus e alheios que sejam estranhos às demais etiquetas deste espaço que é «vivo e desnudo».

Os meus cumprimentos.

José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 29 de Dezembro de 2014.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

02 - POESIA VIVA * Nosso Tempo




Nosso Tempo

I
Esse é tempo de partido,
tempo de homens partidos.

Em vão percorremos volumes,
viajamos e nos colorimos.
A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua.
Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos.
As leis não bastam. Os lírios não nascem
da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se
na pedra.

Visito os fatos, não te encontro.
Onde te ocultas, precária síntese,
penhor de meu sono, luz
dormindo acesa na varanda?
Miúdas certezas de empréstimos, nenhum beijo
sobe ao ombro para contar-me
a cidade dos homens completos.

Calo-me, espero, decifro.
As coisas talvez melhorem.
São tão fortes as coisas!
Mas eu não sou as coisas e me revolto.
Tenho palavras em mim buscando canal,
são roucas e duras,
irritadas, enérgicas,
comprimidas há tanto tempo,
perderam o sentido, apenas querem explodir.

II
Esse é tempo de divisas,
tempo de gente cortada.
De mãos viajando sem braços,
obscenos gestos avulsos.

Mudou-se a rua da infância.
E o vestido vermelho
vermelho
cobre a nudez do amor,
ao relento, no vale.

Símbolos obscuros se multiplicam.
Guerra, verdade, flores?
Dos laboratórios platônicos mobilizados
vem um sopro que cresta as faces
e dissipa, na praia, as palavras.

A escuridão estende-se mas não elimina
o sucedâneo da estrela nas mãos.
Certas partes de nós como brilham! São unhas,
anéis, pérolas, cigarros, lanternas,
são partes mais íntimas,
e pulsação, o ofego,
e o ar da noite é o estritamente necessário
para continuar, e continuamos.

III
E continuamos. É tempo de muletas.
Tempo de mortos faladores
e velhas paralíticas, nostálgicas de bailado,
mas ainda é tempo de viver e contar.
Certas histórias não se perderam.
Conheço bem esta casa,
pela direita entra-se, pela esquerda sobe-se,
a sala grande conduz a quartos terríveis,
como o do enterro que não foi feito, do corpo esquecido na mesa,
conduz à copa de frutas ácidas,
ao claro jardim central, à água
que goteja e segreda
o incesto, a bênção, a partida,
conduz às celas fechadas, que contêm:
papéis?
crimes?
moedas?

Ó conta, velha preta, ó jornalista, poeta, pequeno historiados urbano,
ó surdo-mudo, depositário de meus desfalecimentos, abre-te e conta,
moça presa na memória, velho aleijado, baratas dos arquivos, portas rangentes, solidão e asco,
pessoas e coisas enigmáticas, contai;
capa de poeira dos pianos desmantelados, contai;
velhos selos do imperador, aparelhos de porcelana partidos, contai;
ossos na rua, fragmentos de jornal, colchetes no chão da
costureira, luto no braço, pombas, cães errantes, animais caçados, contai.
Tudo tão difícil depois que vos calastes...
E muitos de vós nunca se abriram.

IV
É tempo de meio silêncio,
de boca gelada e murmúrio,
palavra indireta, aviso
na esquina. Tempo de cinco sentidos
num só. O espião janta conosco.

É tempo de cortinas pardas,
de céu neutro, política
na maçã, no santo, no gozo,
amor e desamor, cólera
branda, gim com água tônica,
olhos pintados,
dentes de vidro,
grotesca língua torcida.
A isso chamamos: balanço.

No beco,
apenas um muro,
sobre ele a polícia.
No céu da propaganda
aves anunciam
a glória.
No quarto,
irrisão e três colarinhos sujos.

V
Escuta a hora formidável do almoço
na cidade. Os escritórios, num passe, esvaziam-se.
As bocas sugam um rio de carne, legumes e tortas vitaminosas.
Salta depressa do mar a bandeja de peixes argênteos!
Os subterrâneos da fome choram caldo de sopa,
olhos líquidos de cão através do vidro devoram teu osso.
Come, braço mecânico, alimenta-te, mão de papel, é tempo de comida,
mais tarde será o de amor.

Lentamente os escritórios se recuperam, e os negócios, forma indecisa, evoluem.
O esplêndido negócio insinua-se no tráfego.
Multidões que o cruzam não vêem. É sem cor e sem cheiro.
Está dissimulado no bonde, por trás da brisa do sul,
vem na areia, no telefone, na batalha de aviões,
toma conta de tua alma e dela extrai uma porcentagem.

Escuta a hora espandongada da volta.
Homem depois de homem, mulher, criança, homem,
roupa, cigarro, chapéu, roupa, roupa, roupa,
homem, homem, mulher, homem, mulher, roupa, homem,
imaginam esperar qualquer coisa,
e se quedam mudos, escoam-se passo a passo, sentam-se,
últimos servos do negócio, imaginam voltar para casa,
já noite, entre muros apagados, numa suposta cidade, imaginam.
Escuta a pequena hora noturna de compensação, leituras, apelo ao cassino, passeio na praia,
o corpo ao lado do corpo, afinal distendido,
com as calças despido o incômodo pensamento de escravo,
escuta o corpo ranger, enlaçar, refluir,
errar em objetos remotos e, sob eles soterrados sem dor,
confiar-se ao que bem me importa
do sono.

Escuta o horrível emprego do dia
em todos os países de fala humana,
a falsificação das palavras pingando nos jornais,
o mundo irreal dos cartórios onde a propriedade é um bolo com flores,
os bancos triturando suavemente o pescoço do açúcar,
a constelação das formigas e usurários,
a má poesia, o mau romance,
os frágeis que se entregam à proteção do basilisco,
o homem feio, de mortal feiúra,
passeando de bote
num sinistro crepúsculo de sábado.

VI
Nos porões da família
orquídeas e opções
de compra e desquite.
A gravidez elétrica
já não traz delíquios.
Crianças alérgicas
trocam-se; reformam-se.
Há uma implacável
guerra às baratas.
Contam-se histórias
por correspondência.
A mesa reúne
um copo, uma faca,
e a cama devora
tua solidão.
Salva-se a honra
e a herança do gado.

VII
Ou não se salva, e é o mesmo. Há soluções, há bálsamos
para cada hora e dor. Há fortes bálsamos,
dores de classe, de sangrenta fúria
e plácido rosto. E há mínimos
bálsamos, recalcadas dores ignóbeis,
lesões que nenhum governo autoriza,
não obstante doem,
melancolias insubornáveis,
ira, reprovação, desgosto
desse chapéu velho, da rua lodosa, do Estado.
Há o pranto no teatro,
no palco ? no público ? nas poltronas ?
há sobretudo o pranto no teatro,
já tarde, já confuso,
ele embacia as luzes, se engolfa no linóleo,
vai minar nos armazéns, nos becos coloniais onde passeiam ratos noturnos,
vai molhar, na roça madura, o milho ondulante,
e secar ao sol, em poça amarga.
E dentro do pranto minha face trocista,
meu olho que ri e despreza,
minha repugnância total por vosso lirismo deteriorado,
que polui a essência mesma dos diamantes.

VIII
O poeta
declina de toda responsabilidade
na marcha do mundo capitalista
e com suas palavras, intuições, símbolos e outras armas
prometa ajudar
a destruí-lo
como uma pedreira, uma floresta
um verme.


Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

10 - JORNAL DE PAREDE * Ah, velho Esopo!...


A rã e o escorpião

Uma rã estava à beira de um rio quando um escorpião lhe pediu que o deixasse ir nas suas costas para a outra margem do rio.
- És doido! – diz-lhe  – ferras-me o teu veneno e matas-me!
- Ora, não tenhas medo. Evidentemente que se te matasse também morreria – argumentou o escorpião.
- E como que é que eu vou saber que não me vais matar quando atingirmos a outra margem? – perguntou a rã.
- Ora, ora… quando chegarmos ao outro lado eu estarei tão agradecido pela tua ajuda que não te vou pagar esta gentileza com a morte.
Os argumentos do escorpião até eram lógicos. A rã pensou, pensou e decidiu aceder.
O escorpião acomodou-se nas costas macias da rã e começaram a travessia.
A meio da travessia do rio o escorpião ferra o veneno na rã, que começa a desfalecer.
- Seu tolo – gritou a rã – agora vamos os dois morrer! Porque fizeste isto?
- Desculpa, mas não pude evitar. Esta é a minha natureza.

Moral da história – Por mais que se tente evitar, mais cedo ou mais tarde, cada um acaba por revelar a sua natureza.

Fábula de Esopo


16 - B R A S I L * Extrema-direita brasileira

Abrimos esta etiqueta num momento que nos reclama repensar esta «Europa connosco». Melhor teria sido criar condições de autêntica lusofonia, tal como fez a Grã-Bretanha, há muito. 
*

Domingo, 12 de Outubro de 2014.
Por que a extrema-direita brasileira 
odeia tanto a Cuba?


Por João Batista no jornal A Verdade

É de se perguntar o porquê de tantos ataques a uma pequena ilha caribenha, nação onde vivem pouco mais de 11 milhões de pessoas (menor que a população do estado da Bahia) e cujo o Produto Interno Bruto – PIB representava US$ 72 bilhões em 2012 (o orçamento apenas da prefeitura de São Paulo é de US$ 25 bilhões) nas eleições presidenciais brasileiras.

A estratégia durante toda a campanha foi de jogar sobre o governo de Dilma a pecha de estar utilizando dinheiro público para financiar o governo cubano, através da construção do Porto de Mariel e da contratação de médicos para o programa Mais Médicos.  Via de regra, a candidatura de Dilma aceitava a crítica e não desmascarou o motivo de tanto ódio a Cuba por parte da extrema-direita.

A verdade é que o Porto de Mariel, a 40 km de Havana, é uma obra a mais financiada pelo BNDES. Outras obras similares foram financiadas em outros países como Equador e Angola. Longe de ajudar o socialismo, o objetivo dessa estratégia é fortalecer as empresas capitalistas nacionais, criando um mercado com os países de sul que possa suplantar a crise vivida pelos EUA e a União Europeia. O grande beneficiado com o porto de Mariel é mesmo a Oderbrecht, já que o financiamento do BNDES será pago pelo governo cubano.

No caso do Mais Médicos, programa paliativo para levar médicos às cidades do interior, a extrema-direita faz uso de duas mentiras. Primeiro, esconde que a vinda dos médicos estrangeiros só aconteceu após a recusa dos médicos brasileiros em trabalhar nos lugares ermos. A honrada classe médica chegou a afirmar que receber R$ 10 mil de salário é escravidão. Segundo, procuram explorar o fato de que grande parte dos salários dos doutores de Cuba serve para pagar seus estudos, ajudar a família e desenvolver o país deles. Escondem que o trabalho do médico fora das fronteiras nacionais é um ato voluntário, humanitário e social, como heroicamente fizeram os médicos cubanos no Haiti e, agora, nos países africanos atingidos pelo Ebola.

Ao caluniar Cuba, a extrema-direita procura colocar toda a esquerda brasileira em defensiva. Ao não defender as conquistas sociais cubanas, a esquerda perde em legitimidade e protagonismo para defender a justiça social no Brasil.

Por mais diferenças que se possa ter com o modelo de democracia ou de socialismo aplicado por Cuba, não se pode perder de vista que uma sociedade que priorize a justiça social ao invés do lucro é sempre melhor que qualquer regime capitalista. Quando nos calamos, parte da classe trabalhadora passa a repetir e acreditar nesses chavões repetidos a exaustão pelos representantes dos capitalistas, tornando mais difícil a luta por justiça social no Brasil.

Afinal, por que tanto ódio a uma pequena ilha?

Cuba é o exemplo de que é possível construir um caminho diferente. Mesmo cercada, embargada e perseguida pelo imperialismo nos terrenos econômico e político, o povo cubano permanece ostentando os melhores índices de desenvolvimento social, reconhecidos pelos organismos independentes da ONU. Já pensaram se se tratasse de um país rico em petróleo, fontes de energia naturais, com amplas florestas e fontes de minérios, ou seja, um país que tivesse condições geográficas e naturais de desenvolver a indústria e a técnica em níveis superiores?

Cuba é a prova viva de que a igualdade social é mais eficaz que o acúmulo de riqueza. Que a solidariedade é mais eficaz que o individualismo. Que a educação e a justiça social são as armas mais eficazes contra o crime e a violência. Que uma sociedade pode viver sem altos índices de consumos de drogas lícitas e ilícitas e, também, sem encarcerar sua juventude e seus pobres. Em resumo, Cuba é a prova viva que todo o discurso da extrema-direita é mentiroso e por isso precisa ser derrotada.

Não podemos esperar que o governo do PT defenda as ideias de Cuba pois seu interesse para com a ilha se resume a esfera dos negócios. É preciso devolver todo o ataque sofrido pelo povo cubano organizando o povo para lutar pelo programa da classe trabalhadora brasileira.

Postado por AF Sturt Silva 


(Republicamos com a devida vénia.)

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

08 - CIDADANIA * Pontos nos ii






CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA

(Edição da Imprensa Nacional Casa da Moeda (2007)


TÍTULO III
Direitos e deveres económicos, sociais e culturais

CAPÍTULO I
Direitos e deveres económicos,

Artigo 58º.
(Direito ao trabalho)


1. Todos têm direito ao trabalho.


2. Para assegurar o direito ao trabalho, incumbe ao Estado promover:

a) A execução de políticas de pleno emprego;

b) A igualdade de oportunidades no escolha da profissão ou género de trabalho e condições para que não seja vedado ou limitado, em função de sexo, o acesso a quaisquer cargos, trabalho ou categorias profissionais;

c) A formação cultural e técnica e a valorização profissional dos trabalhadores.


Está na hora de exigir o cumprimento da Constituição!

Até sempre!
José-Augusto de Carvalho

08 - CIDADANIA * Este Abril que dói...




ESTE ABRIL QUE DÓI PORQUE É MATADO, TRAÍDO!


Choro por tanta dor, abandono, miséria, frio, desemprego, emigração da gente da minha gente.


Choro pela Morte da minha/nossa Mátria.


Mas um dia as lágrimas-sementes serão fruto:REVOLUÇÃO!


Andrade da Silva












quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

05 - REFLEXÕES * O encargo de escrever


Escrever é comunicar.

Quem escreve tem ou supõe ter algo a dizer ao outro.

Quem lê determinará se o que leu foi útil ou uma perda de tempo, do seu tempo de cidadão e leitor.

Escrever é trabalhoso, é mal pago, pode ser um prejuízo material.

Vejamos:

É trabalhoso porque escrever exige horas de estudo e de ponderação, exige consultas e recolha de dados e despesas daí decorrentes;

É mal pago materialmente porque sempre se considerou de somenos o trabalho intelectual; e é mal pago ainda quando não há o reconhecimento por parte das entidades públicas e privadas que da Cultura se reclamam;

Pode ser um prejuízo material quando quem escreve tem de pagar as edições para o seu trabalho chegar ao leitor.

*

Além de quanto antecede, há ainda a situação de quem escreve evitar a edição dita de autor, daí preferir a chancela de uma editora. E esta preferência decorre de ser comum entender-se que a edição de autor determinará menor qualidade do texto editado, pois texto de qualidade terá sempre editora disposta a editar.

Esta verdade feita tem feito o seu caminho na nossa sociedade. Infelizmente.

E aqui levanta-se outra dificuldade para o autor se não for autor consagrado, logo dando garantia comercial ao editor. E a dificuldade é a de ter de pagar a edição e receber uns quantos exemplares do seu livro, os quais, se conseguir comercializá-los, lhe permitirá recuperar o dispêndio. Os restantes exemplares ficarão propriedade da editora, que os comercializará, deles pagando por direitos de autor 10% (ou pouco mais) do preço de capa.

Ponderada esta situação relatada, pergunta-se por que motivo o Estado (do Ministério da Cultura às Juntas de Freguesia) não procura soluções para analisar as obras que lhe sejam submetidas por muitos autores que temos e a esse critério adiram e depois publica as que forem consideradas merecedoras do dispêndio do erário público?

Seria a promoção da palavra escrita e um serviço público à Cultura. E mesmo que seja de atender ao binómio custo-benefício, retorno haverá, certamente.

Evidentemente que para além da palavra escrita, outras actividades na área da Cultura deverão merecer a mesma ponderada atenção.

Aqui fica, para que conste.

Até sempre!

Gabriel de Fochem
Alentejo, 15 de Dezembro de 2014.