Nas estradas e encruzilhadas da vida, liberto das roupagens da vaidade e da jactância, tento merecer esta minha condição de ser vivo.

domingo, 30 de setembro de 2007

10 - JORNAL DE PAREDE * Dize-me com quem andas...



Escolhi este velho aforismo para título do que Hugh Thomas regista no seu livro A GUERRA CIVIL DE ESPANHA, publicado em Portugal pela Editora Ulisseia, sob tradução de Daniel Gonçalves.


«No dia 15 de Agosto (de 1936), a bandeira republicana foi substituída pela bandeira monárquica. Numa cerimónia solene, em Sevilha, Franco apresentou-se na varanda dos Paços do Concelho, beijou várias vezes a bandeira e gritou para a multidão concentrada na praça: «Aqui está! É nossa! Queriam privar-nos dela!» O cardeal Ilundaín, de Sevilha, beijou também a bandeira. Depois Franco prosseguiu: «Esta é a nossa bandeira, aquela à qual prestámos juramento, aquela por que morreram nossos pais, cem vezes cobertos de glória.» Franco terminou com lágrimas nos olhos. Queipo de Llano falou depois e perdeu-se numa série de desatinos sobre as diferentes bandeiras que tinham representado a Espanha em várias épocas. Finalmente comparou as cores monárquicas com «o sangue dos nossos soldados, generosamente derramado, e o solo da Andaluzia, dourado de trigais. Encerrou a arenga com as suas habituais referências à «ralé marxista». Durante este discurso, Franco e Millán Astray, o fundador da Legião Estrangeira (que voltara da Argentina depois do levantamento), que se encontravam ao lado de Queipo, tiveram dificuldade em reprimir o riso. Queipo concluiu declarando que a intensa emoção que sentia o impedira de fazer o género de discurso que tinha em mente. Falou depois Millán Astray, um homem em cujo corpo eram mais a lacunas da carne arrancada pela metralha do que as partes que lhe restavam relativamente intactas. Só tinha uma perna, um braço, um olho e poucos dedos na única mão que ainda conservava. «Não temos medo deles», bradou. Eles que venham e mostrar-lhes-emos do que somos capazes debaixo desta bandeira.» Ouviu-se um brado isolado: «Viva Millán Astray!» «Que vem a ser isso?, gritou o general. Nada de vivas para mim! Mas digam todos comigo: Viva la muerte! Abajo la inteligencia!»


Federico Garcia Lorca seria assassinado três dias depois, na mesma Andaluzia (arredores de Granada)...
*

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

06 - ROMANCEIRO * Projecção





As teorias do comportamento

concedem ao sentir-estar-agir

perfis evolutivos, num devir

que se projecta instante e movimento.


Mover nem sempre quer determinar,

no gesto e no contexto, o progredir.

Nem sempre um passo atrás é regredir,

nem sempre um passo em frente é avançar.


Sentir é perceber,

estar é a postura,

agir é a acção...


E tudo são propostas a reter,

constante conjuntura

de que depende a nossa condição.



06 - ROMANCEIRO * Poeta quero ser!


Poeta quero ser da melodia à rima,
do grito de revolta ao grito da recusa!
Que importa se eu morrer nos braços da Medusa,
se há tanto eu já morri nas ruas de Hiroshima?

Aqui, recuso ter a paz dos cemitérios.
Aqui, recuso ser o cúmplice comparsa
que aplaude ou representa a náusea desta farsa
que sobre escombros ergue os circos dos impérios…

Vermelho é o meu sangue e vivo se derrama
em versos de amargor, nas aras da recusa,
sem nunca se render à fúria que o vitima…

Do tempo que passou ao tempo que me chama,
que importa o meu morrer nos braços da Medusa
se há tanto eu já morri nas ruas de Hiroshima?




José-Augusto de Carvalho
7.8.2004
Viana * Évora * Portugal

06 - ROMANCEIRO * Evasão

                                                             













Nem um palmo tinha

de terra que fosse minha!

A lonjura das herdades

ganhava ao longe da vista...

E o sangue do meu suor

a tudo deu de beber!

Não há homem que resista

quando tudo tem de dar

e nada que receber!

Quando até o pão que é seu

é obrigado a pagar..

Fui a gleba, fui a fome

Não tinha terra nem nome...



José-Augusto de Carvalho
In «arestas vivas», 1980.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

13 - CALEIDOSCÓPIO * Assombração




Difusa sombra, indefinidos os contornos,


os passos de silêncio

assombram os caminhos.




José-Augusto de Carvalho
16/9/2007.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

05 - REFLEXÕES * A nostalgia de Abril


Aquela madrugada, que tanto prometia, trouxe um alento indescritível aos humilhados e ofendidos. Era o fim do pesadelo, era o acordar ao sol de um dia lindo de primavera! E o Povo saiu à rua, reencontrando-se, e abraçou-se, sem hesitação nem timidez.
O Bastião do Carmo caiu! Mas essa queda trouxe o primeiro espinho da rosa anunciada na cedência do Movimento Militar ao então General António de Spínola. Acontecimentos ulteriores demonstrariam que não houvera qualquer alteração na personalidade do Presidente da Junta de Salvação Nacional. O general não pôde ou não soube redimir-se do seu passado de «observador», na mal dita Guerra Civil de Espanha, junto das tropas fascistas, nem em Estalinegrado, também junto das tropas sitiantes do III Reich. O Povo, crédulo e ignorante, aceitou-o como primeiro Presidente da República de Abril.
Em 28 Setembro de 1974, o mesmo Povo ficou a saber que havia uma «maioria silenciosa». Era a minoria daqueles que estiveram sempre com a ditadura fascista, há meses expulsa do Poder. E, como seu «inspirador», lá estava o general António de Spínola. Com esta «jogada democrática», o general ficou sem condições de exercer o cargo de Presidente da República de Abril... e renunciou.
Entretanto, os partidos políticos representados no Governo de Vasco Gonçalves não se entendiam na clarificação dos caminhos apontados pela madrugada de Abril.
Em 11 de Março de 1975, o general «inspirador» de nova «jogada democrática», é obrigado a refugiar-se em Espanha, ainda a Espanha fascista de Franco. E o Movimento Militar determinou a tomada de medidas enérgicas, designadamente junto do poder económico capitalista. Todavia, agudizavam-se as querelas entre os partidos. E entre os militares, também. O chamado Grupo dos Nove foi o segundo espinho da rosa. E Vasco Gonçalves é substituído. Com Pinheiro de Azevedo, Abril caminha inexoravelmente para o ocaso.
Em 25 de Novembro de 1975, o ajuste de contas é implacável. O General Ramalho Eanes será eleito o primeiro Presidente da República de Novembro. E depois, até hoje, cresceram na rosa vários espinhos.
O Povo, desiludido, resignou-se. E vai votando, de 4 em 4 anos, maquinalmente, a perpetuação do Portugal de Novembro, que se não cansa de anunciar o frio e o desconforto do inverno de Dezembro, democraticamente...
Gabriel de Fochem
19/9/2007.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

13 - CALEIDOSCÓPIO * Axioma




Em todo o tempo, o tempo

exalta o movimento.

A inércia não existe.



José-Augusto de Carvalho
9 de Setembro de 2007.

01 - POSIÇÃO * Assumpto!

É do conhecimento de todos nós que quem publica está expondo-se perante quem o lê e também está sujeito a comentários ora favoráveis, ora desfavoráveis.

Estou naturalmente prediposto a aceitar todos os comentários. Até porque neles poderei avaliar a aceitação e a rejeição críticas que os textos publicados merecem.

Não estou, evidentemente, disponível para, neste espaço gentilmente cedido pelo GOOGLE, permitir comentários que ofendam os mais elementares preceitos éticos.

Na certeza de que esta posição ora assumida será subscrita por todos os que se reclamam paladinos do civismo, aqui fica o meu abraço.

Até sempre!

José-Augusto de Carvalho

05 - REFLEXÕES * Poder Local



Como o tempo passa! Estou envelhecendo. Ainda me parece que foi ontem o tempo em que os senhores do Poder Local eram designados pela estrutura da União Nacional local ao Governador Civil do Distrito e este solicitava a sua nomeação ao Ministro do Interior! Vivia-se o tempo da castração e do marasmo. Há histórias deste tempo por contar.


Com a Revolução dos Cravos, em 25 de Abril de 1974, o Estado Novo foi apeado. E o povo pôde escolher os seus representantes livremente. E assim continuamos. Surgiu, então, um Poder Local polícromo, ao sabor das cores das bandeiras partidárias da preferência das populações.


Era de supor que as políticas desenvolvidas fossem conformes à coloração, num confronto saudável de propostas e perspectivas diversas. O tempo encarregou-se de demonstrar que nem sempre foi alcançada a competência no desempenho e no cumprimento do prometido.


Para além dos deveres básicos, comuns a qualquer coloração, o desencanto das populações é mais vincado no incumprimento das propostas de carácter ideológico. E esta afirmação é confirmada pela sentença popular muito em voga: «eles são todos iguais». E aqui chegamos a uma situação perigosa. É que não basta rejeitar a sentença popular. É urgente convencer as populações de que estão erradas, mas com acções determinadas e determinantes.


Objectivamente, a acção duma autarquia tem de corresponder à matriz ideológica da sua força política dominante, a fim de demonstrar a justeza da sua proposta e justificar o apoio recebido no sufrágio.


No Ensino, na Cultura, na Saúde, no Trabalho, no Lazer, etc., são diferentes os caminhos ideológicos propostos pelos Partidos Políticos.


Esperemos.

Gabriel de Fochem


06 - ROMANCEIRO * Da Vida...



O tempo que nos limita

só é limitada senda

quando a vontade finita

não tem auréolas de lenda...

.

José-Augusto de Carvalho

10 - JORNAL DE PAREDE * Da preocupação...



"O que mais me preocupa não é o grito dos violentos, nem dos
 corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem-carácter, nem dos sem

ética. O que mais me preocupa é o silêncio dos bons."


Martin Luther King

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

13 - CALEIDOSCÓPIO * Interrogação



Saudade, alma portuguesa,

quando foi que te criou

esta pátria de incerteza?

Quando o sonho naufragou

e o sal da tua tristeza

os sete mares salgou?



José-Augusto de Carvalho
3.11.2006.

01 - POSIÇÃO * Repto



Deste espaço, 
digo continuar aguardando que a Burguesia no Poder
tenha a coragem de comemorar o 
Golpe de Estado do seu 
25 de Novembro de 1975, 
afrontando, de vez, 
a saudade da Revolução dos Cravos.



José-Augusto de Carvalho

10 - JORNAL DE PAREDE * Sentença - 2




"O ouro de um palácio é a fome de um casebre."

José Duro


(Poeta alentejano, de Portalegre, falecido em Lisboa, 1899.)

terça-feira, 11 de setembro de 2007

10 - JORNAL DE PAREDE * Protesto




Hoje, 11 de Setembro de 2007, apenas se assinala o acto terrorista que ocorreu em 2001, nos Estados Unidos da América?
E aqueloutro acto terrorista ocorrido em 1973, no Chile?
Aqui fica o meu alerta, para que conste.

José-Augusto de Carvalho

04 - FANTASMAS DA MEMÓRIA * 11 de Setembro de 1973



Seguramente esta es la última oportunidad en que me pueda dirigir a ustedes. La Fuerza Aérea ha bombardeado las torres de Radio Portales y Radio Corporación.

Mis palabras no tienen amargura, sino decepción, y serán ellas el castigo moral para los que han traicionado el juramento que hicieron... soldados de Chile, comandantes en jefe titulares, el almirante Merino que se ha autodesignado, más el señor Mendoza, general rastrero ... que sólo ayer manifestara su fidelidad y lealtad al gobierno, también se ha nominado director general de Carabineros.

Ante estos hechos, sólo me cabe decirle a los trabajadores: ¡Yo no voy a renunciar! Colocado en un tránsito histórico, pagaré con mi vida la lealtad del pueblo. Y les digo que tengo la certeza de que la semilla que entregáramos a la conciencia digna de miles y miles de chilenos, no podrá ser segada definitivamente.

Tienen la fuerza, podrán avasallarnos, pero no se detienen los procesos sociales ni con el crimen... ni con la fuerza. La historia es nuestra y la hacen los pueblos.

Trabajadores de mi patria: Quiero agradecerles la lealtad que siempre tuvieron, la confianza que depositaron en un hombre que sólo fue intérprete de grandes anhelos de justicia, que empeñó su palabra en que respetaría la Constitución y la ley y así lo hizo. En este momento definitivo, el último en que yo pueda dirigirme a ustedes,. quiero que aprovechen la lección. El capital foráneo, el imperialismo, unido a la reacción, creó el clima para que las Fuerzas Armadas rompieran su tradición, la que les enseñara Schneider y que reafirmara el comandante Araya, víctimas del mismo sector social que hoy estará en sus casas, esperando con mano ajena reconquistar el poder para seguir defendiendo sus granjerías y sus privilegios.

Me dirijo, sobre todo, a la modesta mujer de nuestra tierra, a la campesina que creyó en nosotros; a la obrera que trabajó más, a la madre que supo de nuestra preocupación por los niños. Me dirijo a los profesionales de la patria, a los profesionales patriotas, a los que hace días estuvieron trabajando contra la sedición auspiciada por los Colegios profesionales, colegios de clase para defender también las ventajas que una sociedad capitalista da a unos pocos. Me dirijo a la juventud, a aquellos que cantaron, entregaron su alegría y su espíritu de lucha. Me dirijo al hombre de Chile, al obrero, al campesino, al intelectual, a aquellos que serán perseguidos... porque en nuestro país el fascismo ya estuvo hace muchas horas presente en los atentados terroristas, volando los puentes, cortando la línea férrea, destruyendo los oleoductos y los gasoductos, frente al silencio de los que tenían la obligación de proceder: estaban comprometidos. La historia los juzgará.

Seguramente Radio Magallanes será acallada y el metal tranquilo de mi voz no llegará a ustedes. No importa, lo seguirán oyendo. Siempre estaré junto a ustedes. Por lo menos, mi recuerdo será el de un hombre digno que fue leal a la lealtad de los trabajadores.

El pueblo debe defenderse, pero no sacrificarse. El pueblo no debe dejarse arrasar ni acribillar, pero tampoco puede humillarse.

Trabajadores de mi patria: tengo fe en Chile y su destino. Superarán otros hombres este momento gris y amargo, donde la traición pretende imponerse. Sigan ustedes sabiendo que, mucho más temprano que tarde, de nuevo abrirán las grandes alamedas por donde pase el hombre libre para construir una sociedad mejor.

¡Viva Chile! ¡Viva el pueblo! ¡Vivan los trabajadores!

Estas son mis últimas palabras y tengo la certeza de que mi sacrificio no será en vano. Tengo la certeza de que, por lo menos, habrá una lección moral que castigará la felonía, la cobardía y la traición.

Salvador Allende
Santiago de Chile 11.9.1973
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06 - ROMANCEIRO * O Maltês




Já fui maltês e ladrão
de quanto me foi roubado.
Meu covil foi o montado;
meu camarada, o suão.

Fui livre à minha maneira,
como um homem deve ser.
A Lei dei a conhecer
da mira da caçadeira.

Por roubar o que era meu,
nas malhas bem apertadas
das baionetas caladas
caí num dia danado!
Mas contas ninguém me deu
de quanto me foi roubado...

José-Augusto de Carvalho
In «arestas vivas», 1980
Lisboa, 1969.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

12 - ROMANCEIRO * Aparição




Nevado de anos, roxo de amargura,
do tempo sem memória me levanto.
Os séculos de treva e de clausura
de fel enrouqueceram o meu canto.

Sangrenta a crença, bárbaro o costume,
sofri as vergastadas do martírio.
Sem culpa nem perdão, em dor e lume,
morri perante as turbas em delírio.

Restou de mim tão pouco, um quase nada,
que vem gritar, do pó do esquecimento,
que a cinza do meu corpo dói, gelada,
à míngua do fulgor do pensamento.

Ampara-me o carinho que me chama
e lava a negação da minha lama.


José-Augusto de Carvalho
11 de Março de 2004.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

04 - FANTASMAS DA MEMÓRIA * Gabriel de Fochem



Escravo da gleba no domínio de Fochem,

vagueia no nevoeiro do tempo,


assombrando as consciências


dos arautos da mentira e da infâmia...

11 - ALBUM DE IMAGENS * Os caminheiros


Apolo e José-Augusto de Carvalho

10 - JORNAL DE PAREDE * A intemporalidade da indignação

06 - ROMANCEIRO * Perspectiva





Às vezes sinto que a palavra apouca
o tanto que queria fosse dito...
É quando o desespero me abre a boca
e tudo se liberta num só grito.


Um grito que ressoa além de mim,
e vindo das angústias ancestrais,
abarca, do princípio até ao fim,
anseios tão de menos, tão de mais...

Não quero ser de mais, nem ser de menos.
Apenas eu, aqui, no tempo certo.
Saber que sermos grandes ou pequenos
é porque estamos mais ou menos perto.

É sempre a perspectiva do meu grito
que tolhe o que calei, o que foi dito...




José-Augusto de Carvalho

10 de maio de 2005.
Viana * Évora * Portugal


06 - ROMANCEIRO * Pão






Quis ser um caule mais, promessa dos trigais,

semente germinada, anseio na raiz,
rasgando o duro chão das dores ancestrais
e ser, em mim, o pão da fome que não quis.

Estóico resistir aos frios invernais,
às águas temporãs dos céus primaveris,
cantar na minha espiga os áureos madrigais
de anseio e perdição em alvo almofariz.

Ser a farinha branca, enlevo de fartura,
a massa levedada a árduas mãos tendida,
com artes e saber, em golpes de ternura.

Por fim, no forno ser, a bênção concedida,
a fome mitigando ausências de amargura,
lavada de sabor de dignidade e vida.


José-Augusto de Carvalho
15 de setembro de 2004
Viana  * Évora * Portugal

06 - ROMANCEIRO * Rebeldia



O relógio parado!
Há um tempo de assombros
neste fardo pesado,
esmagando-me os ombros.

Quando um número primo
do comando, a pantalha enrubesce
e, no fundo do pântano, o limo
é notícia e floresce.

É urgente o momento total,
situando um presente sem muros,
e um jogral
prevenindo os futuros!

É urgente
sermos gente!



José-Augusto de Carvalho

Viana * Évora * Portugal


13 - CALEIDOSCÓPIO * Até quando?




E assim estamos... Estamos?

E assim vamos... Vamos?


E o baile mandado continua!...



Sexta-feira, 7 de Abril de 2006

10 - JORNAL DE PAREDE - Sentença - 1




«Deus manda ser bom,

mas não manda ser parvo...»

(A sabedoria popular no Alentejo. Citando de cor.)

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

13 - CALEIDOSCÓPIO * Aviso




Povo dividido

é Povo vencido,

definitivamente...



Terça-feira, 25 de Abril de 2006.

05 - REFLEXÕES * Eu cidadão versado em coisa nenhuma


Sou versado em coisa nenhuma. Cidadão comum das vielas , aprendo com a vida, dia a dia, a furtar-me às arremetidas dos senhores da cidade. Na mesa modesta, que mais não consente o salário determinado pelos senhores da cidade, vou comendo o tal pão que o diabo amassou. Não invejo os senhores da cidade porque recuso ser um deles. Se os invejasse, talvez, por ínvios caminhos, viesse a ocupar um lugar na fortaleza e a ser pior do que eles. O importante para quem é versado em coisa nenhuma é arrazar a fortaleza e reduzir os senhores da cidade a cidadãos comuns das vielas. E não será nivelar por baixo, mas anular privilégios.
Eu, cidadão versado em coisa nenhuma, sei que por muito que mude de senhores, nunca mudarei de condição. E o drama não está na minha condição, mas na minha permissão. Se os senhores da cidade são tão poucos e os cidadãos versados em coisa nenhuma são tantos, só uma permissividade aberrante consente que o oiro de um palácio seja a fome de um casebre. Esta grande verdade que coloquei em itálico é do poeta José Duro, falecido em 1899, em Lisboa. Ele, se vivesse ainda, não se importaria de que me socorresse do seu verbo. Meu pobre José Duro que, quando já só ossos descarnados, foste parar à vala comum, triste destino dos ossos abandonados. Nem a subscrição pública surtiu. Para nossa vergonha.
Eu, cidadão versado em coisa nenhuma, sei que sou aluno aplicado da universidade da vida. E que só concluirei os meus estudos quando o nada me bater à porta.
Sou poeta quando canto: Da terra sou devedor / a terra me está devendo / que a terra me pague em vida / que eu pago à terra em morrendo. E, depois, que faço eu? Pago (vou pagando..) à terra, mas, antes, permito (vou permitindo...) que a terra me fique devendo...
Sou sábio quando afirmo: Deus manda ser bom, mas não manda ser parvo. Mas continuo parvo. E se tivesse um pouco de bom, seria bom para mim...
Sou indigno de mim e dos outros quando digo: A minha política é o trabalho. Quando eu souber, de uma vez por todas, que trabalho é uma actividade e que política é governar a cidade, saberei, finalmente, que não posso nem devo esperar que os demais façam o que só eu tenho o dever e o direito de fazer.
Serei eu, digno de mim, quando assumir os meus deveres e os meus direitos de cidadão versado em coisa nenhuma.
Só nessa hora saberei quanta verdade encerra a parábola dos vimes.


Gabriel de Fochem
Domingo, 23 de Abril de 2006

05 - REFLEXÕES * Ah, a Revolução dos Cravos!



Ah, a Revolução dos Cravos!

Sabemos que o 25 de Abril de 1974 é uma data remota. Assinala a data em que um movimento militar, com o entusiástico apoio popular, derrubou o regime totalitário que vigorou de 1926 a 1974.


Também sabemos que o 25 de Novembro de 1975 assinala outro movimento militar, este com o objectivo conseguido de interromper a marcha revolucionária.


Os cravos murcharam.


Onde estão os sonhos que embalaram o povo durante a longa noite fascista?


Onde estão as certezas prometidas ao povo com a alvorada de Abril?


O Poeta Miguel Torga disse que "nascer em Portugal é uma condenação". Será?



Gabriel de Fochem
Sexta-feira, 14 de Abril de 2006

05 - REFLEXÕES * A Direita e a Esquerda


Diz quem sabe dessas coisas da História que as tais Direita e Esquerda surgiram com a Revolução Francesa. A tal Grande Revolução Burguesa que, em 1789, em França, apeou a Realeza, a Nobreza e a Igreja Imperial de Constantino. Foi nessa data e com o decisivo empurrão do povo ignorante e faminto que a Burguesia tomou o Poder.
Os Girondinos eram a Direita, os direitícias; os Jacobinos eram a Esquerda, os esquerdícias.
O Poder da Burguesia trouxe consigo a divisa Liberdade * Igualdade * Fraternidade. Para eles, burgueses, apenas para eles, é claro.
A Burguesia trouxe o Capitalismo, mais direitícia, mais esquerdícia, sempre Capitalismo.
As amarguras do povo mantiveram-se. Apeados os Senhores das Linhagens, subiam ao palanque os Senhores do Lucro. Enfim, como diz o rifão: «Tudo como dantes, Quartel-General em Abrantes»! Há quem prefira estoutra sentença: «A m... é a mesma, as moscas é que são outras».
Evidentemente que o Poder da Burguesia foi um passo qualitativo no decurso da História dos Homens. Foi e já não é há muito tempo.
Com a chamada Idade Industrial, ficou muito clara a importância da força de trabalho, isto é, do povo. E com esta peça nova no xadrez, o povo como força de trabalho, surgiram os inevitáveis conflitos entre patrões e trabalhadores assalariados e as ideias destes conducentes a um dia se emanciparem do Poder Burguês.
Enquanto isto, os direitícias e os esquerdícias iam-se revezando na condução dos destinos das gentes. Ora governavam uns, ora governavam outros, ora, num lindo par, governavam juntos. E tão bem ficavam no par, que o povo, sempre criativo, inventou esta máxima: «São tão lindos, tão lindos, que Deus os fez e Deus os juntou!» E com a criação deste par, os direitícias e os esquerdícias «inventaram» o Centro. Foi aí que este pariu os centrícias. Depois, decidiram criar outras combinações, mas sem jamais se desviarem um milímetro da sua matriz: Poder da Burguesia. Aliás, teremos de convir que nada de diferente seria de esperar. Se deixassem de ser o que são, perderiam a sua identidade. E isso é o que eles não querem. Pudera!
De entre outras, uma interrogação o povo se coloca: Por que será que os que se dizem do povo e eleitos pelo povo estão reclamando para si a designação de esquerdícias? Por que sentem a necessidade de procurar no Poder da Burguesia uma palavra que os defina? A palavra que define o Poder do Povo não lhes agrada? Pois eu proclamo ser um democrata, porque defendo a Democracia, a tal expressão grega que significa Poder do Povo ou Poder Popular.
Direitícias, Esquerdícias, Centrícias e por aí adiante são as negaças de que se serve a Burguesia para caçar os distraídos...


Gabriel de Fochem
1-11-2006

02 - POESIA VIVA * Oração





Pão nosso que estás na mesa,

saciando a nossa fome...

Bendito seja o teu nome

de promessa e de certeza! 



Pão nosso sempre amassado 

com o suor que te damos, 

que nunca mais pelos amos 

sejas pão amargurado. 



Vem até nós, por direito, 

e que, como um mandamento, 

sejas o sagrado alento 

que brota da terra-leito! 



Vem até nós, pão liberto, 

que a Terra comum nos dá! 

Que sejas como o maná 

que já foi pão no deserto!... 




José-Augusto de Carvalho
7 de Julho de 2007.
Viana * Évora * Portugal
.
(In "Da humana condição, 2008)