Sou versado em coisa nenhuma. Cidadão comum das vielas , aprendo com a vida, dia a dia, a furtar-me às arremetidas dos senhores da cidade. Na mesa modesta, que mais não consente o salário determinado pelos senhores da cidade, vou comendo o tal pão que o diabo amassou. Não invejo os senhores da cidade porque recuso ser um deles. Se os invejasse, talvez, por ínvios caminhos, viesse a ocupar um lugar na fortaleza e a ser pior do que eles. O importante para quem é versado em coisa nenhuma é arrazar a fortaleza e reduzir os senhores da cidade a cidadãos comuns das vielas. E não será nivelar por baixo, mas anular privilégios.
Eu, cidadão versado em coisa nenhuma, sei que por muito que mude de senhores, nunca mudarei de condição. E o drama não está na minha condição, mas na minha permissão. Se os senhores da cidade são tão poucos e os cidadãos versados em coisa nenhuma são tantos, só uma permissividade aberrante consente que o oiro de um palácio seja a fome de um casebre. Esta grande verdade que coloquei em itálico é do poeta José Duro, falecido em 1899, em Lisboa. Ele, se vivesse ainda, não se importaria de que me socorresse do seu verbo. Meu pobre José Duro que, quando já só ossos descarnados, foste parar à vala comum, triste destino dos ossos abandonados. Nem a subscrição pública surtiu. Para nossa vergonha.
Eu, cidadão versado em coisa nenhuma, sei que sou aluno aplicado da universidade da vida. E que só concluirei os meus estudos quando o nada me bater à porta.
Sou poeta quando canto: Da terra sou devedor / a terra me está devendo / que a terra me pague em vida / que eu pago à terra em morrendo. E, depois, que faço eu? Pago (vou pagando..) à terra, mas, antes, permito (vou permitindo...) que a terra me fique devendo...
Sou sábio quando afirmo: Deus manda ser bom, mas não manda ser parvo. Mas continuo parvo. E se tivesse um pouco de bom, seria bom para mim...
Sou indigno de mim e dos outros quando digo: A minha política é o trabalho. Quando eu souber, de uma vez por todas, que trabalho é uma actividade e que política é governar a cidade, saberei, finalmente, que não posso nem devo esperar que os demais façam o que só eu tenho o dever e o direito de fazer.
Serei eu, digno de mim, quando assumir os meus deveres e os meus direitos de cidadão versado em coisa nenhuma.
Só nessa hora saberei quanta verdade encerra a parábola dos vimes.
Eu, cidadão versado em coisa nenhuma, sei que por muito que mude de senhores, nunca mudarei de condição. E o drama não está na minha condição, mas na minha permissão. Se os senhores da cidade são tão poucos e os cidadãos versados em coisa nenhuma são tantos, só uma permissividade aberrante consente que o oiro de um palácio seja a fome de um casebre. Esta grande verdade que coloquei em itálico é do poeta José Duro, falecido em 1899, em Lisboa. Ele, se vivesse ainda, não se importaria de que me socorresse do seu verbo. Meu pobre José Duro que, quando já só ossos descarnados, foste parar à vala comum, triste destino dos ossos abandonados. Nem a subscrição pública surtiu. Para nossa vergonha.
Eu, cidadão versado em coisa nenhuma, sei que sou aluno aplicado da universidade da vida. E que só concluirei os meus estudos quando o nada me bater à porta.
Sou poeta quando canto: Da terra sou devedor / a terra me está devendo / que a terra me pague em vida / que eu pago à terra em morrendo. E, depois, que faço eu? Pago (vou pagando..) à terra, mas, antes, permito (vou permitindo...) que a terra me fique devendo...
Sou sábio quando afirmo: Deus manda ser bom, mas não manda ser parvo. Mas continuo parvo. E se tivesse um pouco de bom, seria bom para mim...
Sou indigno de mim e dos outros quando digo: A minha política é o trabalho. Quando eu souber, de uma vez por todas, que trabalho é uma actividade e que política é governar a cidade, saberei, finalmente, que não posso nem devo esperar que os demais façam o que só eu tenho o dever e o direito de fazer.
Serei eu, digno de mim, quando assumir os meus deveres e os meus direitos de cidadão versado em coisa nenhuma.
Só nessa hora saberei quanta verdade encerra a parábola dos vimes.
Gabriel de Fochem
Domingo, 23 de Abril de 2006