Enfrento o tempo das palavras gastas
e dos silêncios comprometedores.
Das mãos do déspota, a latir vergastas,
escorre o sangue a sufocar as dores.
Nos campos ermos de promessa e pão
o desespero dos trigais ausentes.
Daninhas ervas vão medrando o não
ao som das modas de perfis dolentes.
São cantos velhos a chorar o drama
na dor da gleba -- a sujeição antiga
que dói ainda e sobre o chão derrama
suados versos de fatal cantiga.
Nas noites longas de assombradas horas,
suspira a Vida: por que te demoras?
José-Augusto e Carvalho
25 de Junho de 2007.
Viana * Évora * Portugal
*
Nota: Em «Vivo e desnudo», presto a minha homenagem ao grande poeta ibérico Gabriel Celaya, que deu a um dos seus livros exactamente este título: A POESIA É UMA ARMA CARREGADA DE FUTURO.