Nas estradas e encruzilhadas da vida, liberto das roupagens da vaidade e da jactância, tento merecer esta minha condição de ser vivo.

domingo, 28 de janeiro de 2018

03 - O MEU RIMANCEIRO * Admoestação



O MEU RIMANCEIRO
.

Admoestação






Dói-me este tempo parado.

Caminhos sem caminheiros…

Que relógio abandonado

sem ter corda nem ponteiros!...



No movimento aparente,

desde a manhã ao sol pôr,

tece o sol incandescente

um manto de luz e cor.



As memórias soterradas

sangram nas papoilas rubras

que sonham desesperadas

o dia em que as redescubras.



A sono solto dormindo,

teimas em não dar por nada.

Nem sonhas o sonho lindo

que há em cada madrugada.



Nas noites de estio ardente,

cantam grilos ao luar

na sinfonia estridente

que em vão te quer despertar…



Mas como um justo tu dormes,

como se fossem tranquilos

estes escombros disformes

que desesperam os grilos.



O que é dos outros cobiças,

numa inveja envergonhada…

e, alheio ao que desperdiças,

acabas por não ter nada.



Tens as nozes do rifão,

p’ra parti-las não tens dentes…

Se és assim por condição,

assume-a e não te lamentes!





José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 28 de Janeiro de 2018.

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