Nas estradas e encruzilhadas da vida, liberto das roupagens da vaidade e da jactância, tento merecer esta minha condição de ser vivo.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

10 - JORNAL DE PAREDE * Para meditar


«(...) pero como dijo Dios,
cruzándose de piernas:
veo que he creado muchos poetas
pero no mucha poesía.»



Charles Bukowski

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

10 - JORNAL DE PAREDE * Impunidade


Tamar Levi, minha querida amiga e poetisa, médica de
profissão, enviou-me este mimo do seu/nosso Brasil. Aqui
fica, em «vivo e desnudo», para que conste...

20/01/2008

POR FAVOR, DIVULGUEM, ESPALHEM...

BANDIDO PRIVILEGIADO

Um assaltante foi preso em flagrante esta semana, em Manaíra, bairro nobre (da cidade) de João Pessoa. A polícia o pegou com a mão na massa, apontando a arma para a vítima. Por isso o levou para a Central, destino de todos os bandidos, para de lá ser recambiado ao presídio, como sempre acontece. Eu disse como sempre acontece, mas menti. Acontecia. Com o assaltante de Manaíra aconteceu diferente. Por ser filho de um ex-deputado, empresário bem sucedido e altíssima autoridade da Prefeitura, o rapaz não foi para o presídio.Sequer foi preso. Na Central, a polícia o preservou da imprensa e do incômodo de se ver trancado numa cela comum, ao lado de seus colegas de profissão.
O rapaz, ao chegar na Central, deparou-se com um batalhão de advogados, cada um falando mais alto do que o outro para mostrar serviço. Lá de cima veio a ordem para ele ficar trancado numa sala reservada e especial, embora não seja portador de diploma superior. Ficou lá, guardadinho, sentadinho, sem que ninguém lhe tocasse num fio de cabelo. Os próprios policiais reclamavam do privilégio. Se os pobres bandidos pobres vão para a cela, são fotografados de cuecas, algemados, servindo inclusive de moldura para o secretário tirar retrato e ser filmado pela tv, por que aquele jovem ficava guardado numa sala, longe de tudo e de todos?
O mais danado é que o bandido não esquentou nem o canto. Dali a pouco desembarcou na Central de Polícia uma ordem de habeas-corpus mandando soltá-lo. Saiu da sala especial e retornou aos braços da família, onde foi curtir, no aconhego do lar nobre e de cobertura, a sua aventura pelo submundo do crime.
Não sei com qual cara o secretário de Segurança vai aparecer, de agora em diante, na frente dos jornalistas, exibindo os seus troféus. Juro que estarei presente para perguntar por que ele usa dois pesos e duas medidas. Essa eu não perderei nem cagando...
*

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

10 - JORNAL DE PAREDE * Governo anuncia recorde de 5.877 escravos libertados em 2007

16/01/2008

Por Repórter Brasil

O conjunto de trabalhadores libertados de situação análoga à escravidão pelo grupo móvel de fiscalização do governo federal alcançou 5.877 trabalhadores em 2007, de acordo com informações divulgadas nesta quarta-feira (16) pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Trata-se do maior número de pessoas libertadas desde 1995, quando esse tipo específico de fiscalização iniciou suas atividades. Os dados de 2007 suplantaram o recorde anterior estabelecido em 2003, ano em que 5.223 trabalhadores foram libertados.

Os pagamentos de direitos devidos aos trabalhadores (R$ 9,8 milhões) e o total de autos de infração lavrados (3.075) em 2007 também superaram as marcas dos anos anteriores.

O recorde de 110 operações realizadas em 2007 foi atingido mesmo com as mais de três semanas de paralisação (entre 21 de setembro e 15 de outubro) do grupo móvel durante o ano. Nesse período, a Secretaria de Inspeção de Trabalho (SIT) do MTE decidiu supender as atividades em decorrência de pressão exercida por uma comissão formada por senadores que tentou deslegitimar uma ação do grupo móvel realizada no final de junho na fazenda e usina Pagrisa. Na operação, em Ulianópolis (PA), 1.064 trabalhadores rurais foram libertados.
No ano passado, 197 fazendas foram fiscalizadas em 2007, não superando o recorde de 275 propriedades rurais visitadas pelo grupo móvel em 2004.

Nos últimos 12 anos, um total de 27.645 pessoas foram libertadas, em 1.184 fiscalização realizadas em 621 operações. De 1995 até hoje, os direitos trabalhistas pagos somaram aproximadamente R$ 38,4 milhões e o MTE promoveu a regularização em carteira de trabalho de 27.101 brasileiros e lavrou 18.116 autos de infração.

Levantamento parcial da Comissão Pastoral da Terra (CPT) de 28 de dezembro de 2007 confirma as proporções apresentadas pelo MTE. De acordo com a CPT, foram libertados em 5.467 trabalhadores em 2007. Segundo a CPT, porém, houve um recuo no volume de denúncias de trabalho escravo, que são as principais referências para o planejamento de operações do grupo móvel. Em 2007, houve 254 denúncias, enquanto que em 2003 foram 265 e, em 2005, 275.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

06 - ROMANCEIRO * Llanto en el tiempo




Son alas de añoranza

el vuelo
que si llora en el tiempo...

Las flores de la novia
moriran
sin un amanecer...

El viento que limpiaba
el cielo
de las nubes oscuras
se fué,
perdido en las olas
del mar
de miedo y de huracánes...

Y todo
de nuevo de rodillas!
y bajo
un cielo ensangrentado
de rabia y cañoneras...


José-Augusto de Carvalho
3 de Janeiro de 2008.
Viana * Évora * Portugal
Do livro em construção: «AL ANOCHECER»

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

05 - REFLEXÕES * O voto


Circunstâncias várias e complexas, a exigirem ponderada e inadiável atenção, vêm determinando que o povo legitime, com o seu voto, o poder da burguesia. E numa percentagem alarmante, que ronda os 90%.
Dizem os "doutores" da burguesia que o povo é sábio. Não dizem, nunca disseram e nunca dirão, que é analfabeto, em percentagem grave; que, ainda que alfabetizado, padece de uma iliteracia igualmente grave; que estes défices são habilmente provocados e mantidos pelo poder da burguesia.
Os valores da burguesia foram e continuam a ser ministrados ao povo, também habilmente. Pudera! E com tamanha eficácia que o povo se arreganha a defendê-los como se fossem seus. E, porque assim é, eis o poder da burguesia tripudiando, absolutamente ciente de que tem o povo consigo. E tem mesmo! E o seu voto cai sempre na urna, como uma maldição!
Aqui e ali, quando um qualquer filho do mesmo povo põe em causa o poder da burguesia, é, de pronto, olhado com desconfiança, quando não acusado de servir as tais forças ocultas que apenas pretendem prejudicar a sociedade e obter ilicitos benefícios. É, em toda a linha, o dividir para reinar...
Outrossim, aqui e ali, quando um ou outro qualquer filho do povo ascende a um patamar rudimentar do poder, quantas vezes não é objectivamente vítima da cultura alheia que absorveu? E quando tal ocorre, a situação é imediatamente aproveitada, habilmente, como sempre, para lançar o povo contra esse seu filho. E, acusado e condenado pelos seus, os «doutores» da burguesia surgem como os únicos capazes de se ocuparem do governo da cidade, que é exactamente o que significa a palavra «política».
E assim vai o povo vivendo na ilusão de que a democracia, a tal palavra grega que afinal significa «poder do povo», é o povo ser governado pelos «doutores» da burguesia.
Para trás ficam, como sempre, as sentenças populares, sabiamente criadas e tragicamente esquecidas.


Gabriel de Fochem
7 de Janeiro de 2008.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

06 - ROMANCEIRO * Verbo de pedra




Às vezes, o silêncio esmaga
o tumulto das palavras.



É quando o verbo feito pedra
cai sobre as areias movediças dos pântanos
e sepulta o sorvedouro.

Hoje, as horas feridas gangrenaram
e os assassinos amputaram
as pétalas indefesas da rosa...

Amanhã, quando os tempos outros
calcorrearem os caminhos,
o verbo feito pedra será o padrão
da lenda da rosa dos ventos.




José-Augusto de Carvalho

Lisboa, 28.12.2007