Nas estradas e encruzilhadas da vida, liberto das roupagens da vaidade e da jactância, tento merecer esta minha condição de ser vivo.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

05 - REFLEXÕES * O voto


Circunstâncias várias e complexas, a exigirem ponderada e inadiável atenção, vêm determinando que o povo legitime, com o seu voto, o poder da burguesia. E numa percentagem alarmante, que ronda os 90%.
Dizem os "doutores" da burguesia que o povo é sábio. Não dizem, nunca disseram e nunca dirão, que é analfabeto, em percentagem grave; que, ainda que alfabetizado, padece de uma iliteracia igualmente grave; que estes défices são habilmente provocados e mantidos pelo poder da burguesia.
Os valores da burguesia foram e continuam a ser ministrados ao povo, também habilmente. Pudera! E com tamanha eficácia que o povo se arreganha a defendê-los como se fossem seus. E, porque assim é, eis o poder da burguesia tripudiando, absolutamente ciente de que tem o povo consigo. E tem mesmo! E o seu voto cai sempre na urna, como uma maldição!
Aqui e ali, quando um qualquer filho do mesmo povo põe em causa o poder da burguesia, é, de pronto, olhado com desconfiança, quando não acusado de servir as tais forças ocultas que apenas pretendem prejudicar a sociedade e obter ilicitos benefícios. É, em toda a linha, o dividir para reinar...
Outrossim, aqui e ali, quando um ou outro qualquer filho do povo ascende a um patamar rudimentar do poder, quantas vezes não é objectivamente vítima da cultura alheia que absorveu? E quando tal ocorre, a situação é imediatamente aproveitada, habilmente, como sempre, para lançar o povo contra esse seu filho. E, acusado e condenado pelos seus, os «doutores» da burguesia surgem como os únicos capazes de se ocuparem do governo da cidade, que é exactamente o que significa a palavra «política».
E assim vai o povo vivendo na ilusão de que a democracia, a tal palavra grega que afinal significa «poder do povo», é o povo ser governado pelos «doutores» da burguesia.
Para trás ficam, como sempre, as sentenças populares, sabiamente criadas e tragicamente esquecidas.


Gabriel de Fochem
7 de Janeiro de 2008.

Sem comentários: