É quando a morte chega à Feira das Vaidades
que ganha nitidez a nossa condição.
É quando o sal amarga e queima as veleidades
que a morte nos reduz à nossa dimensão.
É quando a luz do sol, cegando o vaga-lume,
esmaga a pequenez da néscia presunção.
É quando por grasnar chilreio se presume
que uma qualquer lamúria intenta ser canção.
É quando a Lua-cheia incita à tentação
que a noite se revela enleio enamorado.
É quando não há mais varinhas de condão
que o charlatão se quer o príncipe encantado.
É quando já ninguém consegue acreditar
que o verso em armas faz da vida o seu altar.
José-Augusto de Carvalho
In «Da humana condição»
EdiumEditores, Março de 2008