Naquela noite, o mocho não piou no meu quintal, como era seu costume, à hora certa do meu adormecer.
Nada entendo do código das aves nem soube ainda por que diz o povo que o mocho, em seu piar, nos traz agouro.
Apenas sei que aquela noite antiga era uma noite igual a todas as demais de primavera.
Cansado, adormeci, sem me ocorrer sequer conjecturar sobre o porquê da ausência do mensageiro alado de desgraças e meu nocturno e velho companheiro das minhas noites fartas de cansaço.
Acordei ao som do meu despertador. Um pouco quase nada antes das sete. O rádio, à cabeceira, dava a noticia:
Aqui, Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas...
Do meu quintal, chegava o pipilar vestido de ternura das aves que saudavam a manhã.
E, nesse instante, dei comigo a perguntar-me:
Por que motivo não teria vindo o mocho, ontem, à hora do meu adormecer?
25 de Agosto de 2008.
2 comentários:
Que pergunta, Meu Caro e fugídio Gabriel.
Se o rádio anunciava "Posto de Comando..." e o mocho não apareceu, sabendo nós que os "HOMENS" foram alcunhados de SEM SONO, é simples.
O mocho estava comprometido com o Movimento e nessa noite, outros interesses mais altos se alevantaram.
Não é difícil.
Grande e Fraterno Abraço,
Jerónimo Sardinha
Inesperado e belo, grandioso desfecho
abraço
Marilia Gonçalves
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