Nas estradas e encruzilhadas da vida, liberto das roupagens da vaidade e da jactância, tento merecer esta minha condição de ser vivo.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

05 - REFLEXÕES * O mocho


Naquela noite, o mocho não piou no meu quintal, como era seu costume, à hora certa do meu adormecer.


Nada entendo do código das aves nem soube ainda por que diz o povo que o mocho, em seu piar, nos traz agouro.


Apenas sei que aquela noite antiga era uma noite igual a todas as demais de primavera.


Cansado, adormeci, sem me ocorrer sequer conjecturar sobre o porquê da ausência do mensageiro alado de desgraças e meu nocturno e velho companheiro das minhas noites fartas de cansaço.


Acordei ao som do meu despertador. Um pouco quase nada antes das sete. O rádio, à cabeceira, dava a noticia:


Aqui, Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas...


Do meu quintal, chegava o pipilar vestido de ternura das aves que saudavam a manhã.


E, nesse instante, dei comigo a perguntar-me:
Por que motivo não teria vindo o mocho, ontem, à hora do meu adormecer?


Gabriel de Fochem
25 de Agosto de 2008.

2 comentários:

Jerónimo Sardinha disse...

Que pergunta, Meu Caro e fugídio Gabriel.

Se o rádio anunciava "Posto de Comando..." e o mocho não apareceu, sabendo nós que os "HOMENS" foram alcunhados de SEM SONO, é simples.

O mocho estava comprometido com o Movimento e nessa noite, outros interesses mais altos se alevantaram.

Não é difícil.

Grande e Fraterno Abraço,
Jerónimo Sardinha

Marília Gonçalves disse...

Inesperado e belo, grandioso desfecho
abraço
Marilia Gonçalves