Dizei-me, iluminados, onde fica
a terra decantada da utopia?
Eu quero ver a mão que modifica
o fel em mel, o choro em melodia.
Quisestes ensinar-me a boa nova
do lobo e do anho em paz pascendo juntos.
Aqui, onde a penar, do berço à cova,
de paz apenas gozam os defuntos.
Eu soube de Caim matando Abel!
Ainda quente o barro ao sol cozido…
O mel azedo transformado em fel
na mesa dos incautos é servido.
Soube também da pena de Talião…
…e mais e mais morrendo a utopia!
Que pode e que não pode a minha mão
para rasgar a treva e ver o dia?
Descubro, iluminados, que sou eu
quem vai além do barro à utopia!
Sou eu quem a si mesmo prometeu
e há-de cumprir o fim desta agonia.
José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 12 de Novembro
de 2016.
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