ESTA LIRA DE MIM!...
Catarse
Naquele dia, do meu pátrio chão,
quase menino ainda, me arrancou
um desígnio malsão.
E ninguém protestou.
Quase ainda menino,
um soluço na voz,
suspeitei do destino.
Ao tempo, eu nem sabia
que o destino podia
ser erguido por nós.
Também eu, Bernardim,
da casa de meus pais fui arrancado,
arrancado e levado
para tão longe deles e de mim.
E ninguém protestou
quando a renúncia ergueu o meu destino
e me sacrificou…
e eu era ainda quase um menino!
Porque um homem não chora,
tolices ensinadas às crianças,
quase matei o coração naquela hora,
que estavam mortas já as esperanças..
E fui a desfolhar a débil planta
como se Outono fora a minha Primavera.
Numa gaiola, um rouxinol não canta,
por mais que seja longa a espera
do cruel carcereiro
que impõe à liberdade o cativeiro.
Ficaram cicatrizes,
roxas de iniquidades sem perdão.
A tudo resistiram as raízes,
sempre gritando --- Não!
José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 28 de Setembro de 20017.
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