(TEMPO DE SORTILÉGIO)
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Em louvor do movimento
Tela de Siqueiros, com a devida vénia
Não trago no bornal renúncias e atropelos.
Não trago no cantil as sedes saciadas.
Caminho com a lama até aos tornozelos.
Nos campos ermos, domo angústias, rasgo estradas.
Saúda a cotovia os arrebois do dia.
O seu cantar feliz desperta os meus sentidos.
Levanto-me da cama ao som da cantoria.
Meus passos não serão incertos nem perdidos.
Difícil é andar ao frio que enregela
por mais que seja belo o manto de brancura,
mas mais difícil é tomar pincéis e tela
e ser a dimensão de nós ganhando altura
Difícil é andar ao vento que flagela,
(o látego zurzindo injúrias e inclemências),
mas mais difícil é domar o leme e a vela
da nau que aporte ao fim de todas as urgências.
Importa caminhar, a vida é movimento.
É mero pormenor, chegar ou não ao fim.
Os passos que eu não der, jamais por desalento,
mais tarde, outros darão, por eles e por mim.
José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 16 de Novembro de 2017.
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