NA ESTRADA DE DAMASCO
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Quase uma oração
Eu pago a água que é uma dádiva do Céu
Eu pago a energia que é uma dádiva da água
que é uma dádiva do vento
Eu pago o pão que é uma dádiva da Terra
que é um dádiva de quem trabalha a Terra
Senhor que és omnipresente e não me vês…
Senhor que és omnisciente e deixas-me perdido nos meus porquês…
Senhor, eu sei que sou o barro que amassaste
naquele dia antigo que perdura ainda nos escombros caóticos da memória
Tu sabes que também do mesmo barro que amassaste
eu fiz tijolos e ergui casas…
E outros meus irmãos ergueram muros e cárceres que perduram…
Senhor, o velho bezerro de ouro do Sinai
é um velho sempre em novas transfigurações e perversões
Senhor, a tua obra está datada
e o tempo sempre noutros tempos reinventado degenerou
Senhor, talvez tenha morrido o sonho que sonhaste
Talvez, num outro tempo,
no tempo de hoje,
eu tenha de amassar um outro barro
e inventar um sonho novo…
José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 11 de Julho de 2018.
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