NA PALAVRA É QUE VOU...
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Manifesto
Ícaro, tela de Chagall
Questiono ou não os meus antepassados?
São eu neste outro tempo modelados…
Todo o tempo é composto de mudanças…
ganhando ou não ganhando qualidades,
perdendo ou não perdendo qualidades…
Não vou dobrar o Cabo Bojador…
Como ir além do medo? Além da dor?
Não vou dobrar o Cabo das Tormentas…
Perene é a tormenta,
distante a esperança que persigo…
Persiste à minha frente o Cabo Não,
num desafio instante e perigoso…
Herdeiro sou de fastos e misérias,
aos ombros trago o Tudo, trago o Nada,
o vinho e o pão da minha mesa efémera…
Os passos que já dei
não voltarei a dar…
Ninguém banhar-se pode duas vezes
nas mesmas águas deste nosso rio…
Tinha toda a razão o velho Heráclito!
Aqui e sem negar-me tento ser
o impulso a projectar-me para diante.
Memória do que fui, a minha história,
outra não tenho para me contar…
São fastos, são misérias, são heranças
que herdei dos outros eus que fui inteiro…
Mantenho ou não a glória desses fastos?
Corrijo ou não a dor dessas misérias?
Venha o primeiro justo condenar-me!
Venha a primeira pedra castigar-me!
Depois de mim que venham outros eus
justificar-me ou não
ou redimir-me ou não…
José-Augusto de Carvalho
27 de Novembro de 2018.
Alentejo * Portugal
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