NA PALAVRA É QUE VOU…
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Falando de dores
Hoje, tentemos conjugar o verbo doer…
Qual será o significado do lamento: estou com uma dor de dentes difícil de suportar?
Afinal, uma dor de dentes é um problema que o Serviço Nacional de Saúde (mal)trata e de que a odontologia privada se ocupa se ou quando a disponibilidade do meu salário mo permite. Assim, tal qual – quem quer saúde, paga-a!
Evidentemente que a dor de dentes é um exemplo entre todas as outras dores que nos afligem ou nos podem afligir enquanto caminhamos nesta viagem finita em que vamos…
… vamos. muitos cantando e rindo;
… vamos, muitos encarando a viagem como uma via profana (via crucis reduzida à dízima);
… vamos, muitos sem darem por nada, numa acomodação mísera e mesquinha (e aqui te evoco, meu amado Luís, mais uma vez);
… vamos, outros ainda, mas poucos, muito poucos, esbracejando ou esbravejando;
--- vamos, uns tantos proclamando serem do contra porque é bonito ser contestatário ou porque lhes convém inocuamente lavarem a consciência…
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Vejamos:
-- eu sei que pago os meus Impostos;
-- eu sei que sou, desde o velho Adão, obra do Criador, logo eu e todos os demais pertencemos à única Irmandade --- a Irmandade Humana;
-- eu sei que a Mãe Eva e o Pai Adão mal se comportaram cometendo o pecado da desobediência e, por isso mesmo, foram expulsos do Paraíso, passando eles depois as passas do Algarve e outras mais… e que no-las deixaram de herança até hoje, numa penitência de longevidade que me assombra; mas tudo bem, a misericórdia do Criador é infinita;
-- eu sei que a nossa Leonor, filha do Duque de Beja, depois rainha, após o casamento com o Príncipe Perfeito, o nosso Dom João II, Rei de Portugal de perene memória apesar das aleivosias de muitos, criou as Misericórdias, obra modesta e, avento eu, paroquialmente inspirada na misericórdia infinita;
-- eu sei que os Direitos Humanos dizem defender-me;
-- eu conheço a Declaração Universal dos Direitos do Homem (ONU, 1948);
-- eu conheço os direitos constitucionais do cidadão português;
-- eu suponho saber ler, mas quanto mais leio, mais me parece que vivo um equívoco:
-- eu suponho saber escrever (cartas à família e pouco mais…), mas quanto mais escrevo menos leitores tenho; mas entendo isto: o silêncio mata, logo eu sei que me estão matando… E aqui eu sorrio divertido: não percam tempo querendo matar-me!… a Senhora Dona Morte (olá, Florbela, minha amada) não vai cometer a maldade de se esquecer de mim…
Até sempre!
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José-Augusto de Carvalho
20 de Outubro de 2019.
Alentejo * Portugal
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