Nas estradas e encruzilhadas da vida, liberto das roupagens da vaidade e da jactância, tento merecer esta minha condição de ser vivo.

sábado, 13 de agosto de 2022

17 - POEMÁRIO * Na voragem




CANTO REBELADO

.

Na voragem




Chegaram em tropel os cavaleiros.

Empunham lanças, erguem estandartes.

De Torquemada ingénitos herdeiros

de imolações, mordaças e outras artes

do opróbrio dos carrascos justiceiros.

.

Trombetas galvanizam os vassalos.

Agita-se convulsa a humana massa.

Nervosos e fogosos os cavalos,

de condição corcéis de pura raça,

só a bridão conseguem refreá-los.

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O povo-servo observa boquiaberto,

nostálgico das mortas primaveras.

Os velhos olham o presente incerto

no insólito aparato de outras eras,

como quem lê um livro há muito aberto.

.

Exaustos e arrimados aos cajados,

que as forças já em pé mal os sustentam,

prevêem, nos espaços enublados,

as fúrias que implacáveis se concentram

no apocalipse dos homiziados.

.

Na Torre de Menagem aparece

o títere amestrado e fala às massas.

No Céu de chumbo, o dia que escurece

no trágico prenúncio de desgraças...

...e eu balbucio a derradeira prece.

.

José-Augusto de Carvalho

Alentejo, 13 de Agosto de 2022.

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