CANTO REBELADO
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Na voragem
Chegaram em tropel os cavaleiros.
Empunham lanças, erguem estandartes.
De Torquemada ingénitos herdeiros
de imolações, mordaças e outras artes
do opróbrio dos carrascos justiceiros.
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Trombetas galvanizam os vassalos.
Agita-se convulsa a humana massa.
Nervosos e fogosos os cavalos,
de condição corcéis de pura raça,
só a bridão conseguem refreá-los.
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O povo-servo observa boquiaberto,
nostálgico das mortas primaveras.
Os velhos olham o presente incerto
no insólito aparato de outras eras,
como quem lê um livro há muito aberto.
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Exaustos e arrimados aos cajados,
que as forças já em pé mal os sustentam,
prevêem, nos espaços enublados,
as fúrias que implacáveis se concentram
no apocalipse dos homiziados.
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Na Torre de Menagem aparece
o títere amestrado e fala às massas.
No Céu de chumbo, o dia que escurece
no trágico prenúncio de desgraças...
...e eu balbucio a derradeira prece.
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José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 13 de Agosto de 2022.
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