O MEU RIMANCEIRO
(QUE VIVA O CORDEL!)
(QUE VIVA O CORDEL!)
*
Sonho de Primavera!
Quando tu acreditaste
que chegara a Primavera,
o medo gritou-te: espera!
e tu, confuso, esperaste.
Tiveste medo do medo,
do medo que te encarcera.
Foi porque tiveste medo
que perdeste a Primavera.
Depois, chegou o Verão,
muito quente, muito quente!
E tu, nessa lassidão,
dormias indiferente.
Quando acordaste, era Outono,
o tempo das azeitonas.
E tu, ainda com sono,
à modorra te abandonas!
Só quando em redor olhaste,
viste a paisagem mudada:
nua estava a débil haste,
no abandono desfolhada.
Ficaste sem entender
o que tinha acontecido,
como se pudesse haver
no não-ser algum sentido.
Hoje, nas águas paradas
do paúl tentas sonhar
caravelas encantadas
sedentas por navegar.
José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 22 de Janeiro de 2017.
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