Nas estradas e encruzilhadas da vida, liberto das roupagens da vaidade e da jactância, tento merecer esta minha condição de ser vivo.

quarta-feira, 20 de junho de 2018

02 - POESIA VIVA * O verbo

TEMPOS DO VERBO (1990)
O VERBO



Desceu o verbo em luz e as sombras, noite e treva,
cederam seu lugar a raios deslumbrados.
Do fundo da caverna, o espírito se eleva
e os longes ganha, aquém e além, iluminados.

Horizontes de espanto, enleios de aventura,
rasgaram os grilhões e os passos hesitantes
ensaiam infantis anseios de procura
nos campos de trigais maduros e ondulantes.

Princípio é este tempo, o verbo conjugado,
a fome e a sede, a graça viva da alvorada,
numa conjugação de massa levedada
e vinho novo, claro, livre, embriagado.

E o tempo é todo o tempo o verbo que anuncia
o fim da sombra, a luz que raia e aquece --- o dia!


José-Augusto de Carvalho
Lisboa, 27 de Janeiro de 1988.

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