TEMPOS DO VERBO (1990)
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O VERBO
Desceu o verbo em luz e as sombras, noite e treva,
cederam seu lugar a raios deslumbrados.
Do fundo da caverna, o espírito se eleva
e os longes ganha, aquém e além, iluminados.
Horizontes de espanto, enleios de aventura,
rasgaram os grilhões e os passos hesitantes
ensaiam infantis anseios de procura
nos campos de trigais maduros e ondulantes.
Princípio é este tempo, o verbo conjugado,
a fome e a sede, a graça viva da alvorada,
numa conjugação de massa levedada
e vinho novo, claro, livre, embriagado.
E o tempo é todo o tempo o verbo que anuncia
o fim da sombra, a luz que raia e aquece --- o dia!
José-Augusto de Carvalho
Lisboa, 27 de Janeiro de 1988.
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