Nas estradas e encruzilhadas da vida, liberto das roupagens da vaidade e da jactância, tento merecer esta minha condição de ser vivo.

domingo, 13 de abril de 2008

10 - JORNAL DE PAREDE * O discurso


«vivo e desnudo» assume-se como um espaço de intervenção. Com o objectivo, sempre, de encontrar «a verdade a que temos direito» de que nos falou o saudoso poeta Ary dos Santos. Exactamente por isso, aqui se acolhe o pedido de divulgação do discurso do ministro brasileiro da Educação, proferido nos Estados Unidos da América do Norte.

Informa a querida Amiga Rosa de que não é todos os dias que um brasileiro dá um «baile» educadíssimo aos norte-americanos.


Durante um debate numa universidade dos Estados Unidos, o actual Ministro da Educação, CRISTOVAM BUARQUE, foi questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazónia (ideia que surge com alguma insistência em alguns sectores da sociedade americana e que muito incomoda os brasileiros). Um jovem americano fez a pergunta dizendo que esperava a resposta de um Humanista e não de um Brasileiro. Esta foi a resposta de Cristovam Buarque:

'De facto, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazónia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse património, ele é nosso. Como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazónia, posso imaginar a sua internacionalização, como também a de tudo o mais que tem importância para a humanidade. Se a Amazónia, sob uma ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro... O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazónia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extracção de petróleo e subir ou não seu preço. Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazónia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono ou de um país.
Queimar a Amazónia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação. Antes mesmo da Amazónia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo génio humano. Não se pode deixar que esse património cultural, como o património natural Amazónico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito tempo, um milionário japonês decidiu enterrar com ele um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.
Durante este encontro, as Nações Unidas estão realizando o Fórum do Milénio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu acho que Nova York, como sede das Nações Unidas, deve ser internacionalizada. Pelo menos, Manhattan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história domundo, deveria pertencer ao mundo inteiro. Se os EUA querem internacionalizar a Amazónia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos também todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil. Nos seus debates, os actuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a ideia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do Mundo tenha possibilidade de COMER e de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como património que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazónia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um património da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar, que morram quando deveriam viver. Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazónia seja nossa. Só nossa!'

Nota:

ESTE DISCURSO NÃO FOI PUBLICADO.
AJUDE-NOS A DIVULGÁ-LO porque é muito importante ... e porque foi CENSURADO!

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2 comentários:

Maria João disse...

Merecida e magistral resposta sobre a "internacionalização" da Amazónia...
Parabéns por este belíssimo espaço de intervenção.
E felicito-o também pela sua maneira de estar na vida, José-Augusto de Carvalho. O mundo bem precisa que os Poetas tenham esta postura.
Ando à procura do seu e-mail para lhe enviar um simples comentário que fiz ao soneto "Saudade do alvorocer", na lista Amante das Leituras, visto que não o consigo encontrar naquele espaço.
Provavelmente, o seu endereço electrónico estará neste seu blog, mas... rs
Com amizade e muita admiração, envio um abraço
Maria João Oliveira

zé9A disse...

Àcerca do discurso/resposta do ministro brasileiro, acho-o, simplesmente fabuloso.

Amigo José-Augusto a partir de agora v. vai fazer parte dos meus Favoritos.

abraço

zé laranjeiro