Naquele tempo, Roma impunha o seu Império!
A força do Poder calcava a Palestina!
Só uma paz havia --- a paz do cemitério!
É vil a tirania! E, bárbara, assassina!
Sofria o Povo a dor ferida dos vexames!
Na Pátria que era sua, impunham-se os estranhos!
Se a resistência ousava uns tímidos tentames,
a lei impunha ao Povo agruras e arreganhos.
Desordem ordenada. Absurda impunidade.
Mordiam os mastins. A raiva à luz do dia.
Ninguém pode gritar um viva a liberdade!
O Povo assusta Roma! O Povo que sofria!
Senhora do maior Império deste Mundo!
Tropel de legiões! O medo é violento.
A surda profecia é um andrajo imundo,
lavado de suor, calando a voz do vento.
Cumprindo a lei, lá vai a grávida Maria…
Jerusalém é longe… incerta é a chegada.
Exausto de opressão, o Povo obedecia.
Outras Marias vão, doendo a mesma estrada…
A Natureza-Mãe sorri da tirania.
Tiranos tantos viu que lhes perdeu a conta!
E quantos mais verá se o sangue, cada dia,
insiste em derramar-se em pântanos de afronta?
Herodes é o rei. O títere amestrado.
Roma pagou o preço, em saldo, dos traidores…
Que importa que Maria, exausta, ceda às dores?
Que importa mais um parto assim desesperado?
Cumprida a gravidez, o tempo é de nascer!
Com todo o seu império, a Roma possidente
atónita ficou, sem conseguir deter
o ventre humilde e em dor duma parturiente…
Maria deu à luz em data e hora incertas.
O mês, o dia… pois… isso que importa agora?
Nos basta que pariu… e que, de asas abertas,
um anjo anunciou, na noite, uma ígnea aurora.
Cresceu o seu menino até ao infinito…
Foi mestre e desprezou riquezas e vãs glórias…
Traído e morto foi… num torpe veredicto…
Depois, diversas são, no mito, as trajectórias…
José-Augusto de Carvalho
Alentejo * Portuigal
In “O meu cancioneiro”, Setembro de 2009.
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