Nas estradas e encruzilhadas da vida, liberto das roupagens da vaidade e da jactância, tento merecer esta minha condição de ser vivo.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

08 - CIDADANIA * Eu não fujo de mim!


Diz quem sabe que “ostracismo é o afastamento (imposto ou voluntário) de um indivíduo do meio social ou da participação em actividades que antes eram habituais.”

Ah, a nossa muita amada Velha Grécia previu tudo! Confunde-me até ao deslumbramento o legado assombroso deste Povo-maior! Foi no Conhecimento! Foi na Poesia! Foi no Teatro! Foi nas Ciências! Foi na Política! Foi no Desporto! Foi no âmbito militar! Terá sido em tudo ou quase tudo que possibilitou o seu tempo!

Uma amiga de quem nada sei há anos, professora de Filosofia, dizia-me frequentemente: pois é, ainda hoje pensamos como a Velha Grécia quis que nós pensássemos!

Eterno aprendiz, sempre me deliciou a máxima sabedoria do velho Sócrates: “Eu só sei que nada sei.” Ah, que bom seria para todos nós, hoje e sempre!, se seguíssemos o esclarecido pensamento de um homem que teve a grandeza de dizer esta frase!

Às vezes, dou comigo a tentar imaginar alguns dos que conhecemos hoje virem reconhecer que nada sabem. Loucura minha, claro. Só um louco poderá imaginar ouvir do cimo do palanque um dos pretensamente iluminados confessar “eu só sei que nada sei”.

Enfim, adiante!

Falava de ostracismo. Sim, do ostracismo que voluntariamente me impus. Quantas vezes a paz interior nos impõe o recolhimento. Eu sei que é um recolhimento sofrido, mas há situações-limite. E quando assim é, mais vale uma atitude drástica a ficar a vida inteira a reclamar como o nosso Sá de Miranda: “Comigo me desavim / sou posto em todo o perigo / não posso viver comigo / não posso fugir de mim.”

No meu ostracismo voluntário, eu não lavei as mãos, como dizem que Pilatos lavou, desinteressando-se, cúmplice, do destino de Jesus. Eu defendi a minha postura e não fui ouvido. E deitar palavras ao vento ou falar com quem não está interessado em me ouvir e me responder não é solução que me sirva. Eu sei que não sou dono da Verdade; mas quem fala comigo ou se recusa a falar comigo também não é dono da Verdade. Para mais, o tempo, esse velho tempo que tudo coloca nos carris devidos, mais cedo ou mais tarde, é minha testemunha abonatória.

Não sou nem um vencedor nem um perdedor. Sou apenas uma pessoa que tem valores a que se dá e causas a que se entrega, sem restrições, sem rendições.

Eu não fujo de mim!

Aqui fica, para que conste e para memória futura.



José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 9 de Dezembro de 2016.

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