Nas estradas e encruzilhadas da vida, liberto das roupagens da vaidade e da jactância, tento merecer esta minha condição de ser vivo.

segunda-feira, 16 de abril de 2018

03 - O MEU RIMANCEIRO * Olhai



O MEU RIMANCEIRO 


Olhai 






Olhai as minhas mãos vazias e enrugadas 

que já perderam tudo. 

Não mais as infantis manhãs alvoroçadas 

do mais estreme ludo… 



Não mais as trovas de alma e coração rendido 

no ardor primaveril em asas de andorinha 

ousando amor além do régio permitido 

na bela que depois de morta foi rainha… 



Não mais a sedução de longes e sereias 

nas minhas mãos abertas, 

gretadas pela flor de sal das marés cheias 

de arrojo e descobertas… 



Olhai agora e vede as minhas mãos tão frias, 

num desespero de ais, 

enquanto enfrentam já sem força as agonias 

do nosso amado cais. 



Olhai que não vos peço esmola ou pia prece. 

Sem nada, tudo tive! 

De nada mais careço aqui onde se tece 

a vida de quem vive. 





José-Augusto de Carvalho 
Alentejo, 16 de Abril de 2018. 


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