O MEU RIMANCEIRO
.
Olhai
Olhai as minhas mãos vazias e enrugadas
que já perderam tudo.
Não mais as infantis manhãs alvoroçadas
do mais estreme ludo…
Não mais as trovas de alma e coração rendido
no ardor primaveril em asas de andorinha
ousando amor além do régio permitido
na bela que depois de morta foi rainha…
Não mais a sedução de longes e sereias
nas minhas mãos abertas,
gretadas pela flor de sal das marés cheias
de arrojo e descobertas…
Olhai agora e vede as minhas mãos tão frias,
num desespero de ais,
enquanto enfrentam já sem força as agonias
do nosso amado cais.
Olhai que não vos peço esmola ou pia prece.
Sem nada, tudo tive!
De nada mais careço aqui onde se tece
a vida de quem vive.
José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 16 de Abril de 2018.
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