O MEU RIMANCEIRO
*
Das manhãs…
1
Há manhãs assim:
diferente acorda o dia,
mais intenso o carmesim,
como há muito se não via.
Mais parece no sangrar
que este Mundo em vil desmando
não mais é do que um altar
outro mártir imolando
2
Outras há de nevoeiro,
de tamanha cerração,
que confunde um timoneiro
que precisa a direcção.
Horas são de calafrios
e mão firme p’ra valer,
que encobertos os baixios
lá estão p’ra nos perder!
3
Há quem diga haver também
as manhãs puras e belas
que este céu sim fim sustém
como a mais bela das telas.
Que talento de pintor
deslumbrando o céu sem fim?
Quem me dera a luz e a cor
duma só manhã assim!
4
Que sonho lindo leveda
no dulçor da nostalgia
do Jardim antes da queda…
…o jardim que então havia!
Nunca mais o leite e o mel!
Sem Jardim, ficámos sós.
Preferindo Deus Abel,
com Caim ficámos nós.
José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 5 de Abril de 2018.
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