(TEMPO DE SORTILÉGIO)
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Ecce Homo, sempre!
Desfeitas as entranhas, sangue e pus,
o que restou de mim, aos pés da cruz!
Os fariseus não brincam em serviço!
Famélicos, em bárbaro delírio,
fizeram dos meus restos um feitiço,
quiseram-me a sofrer mais um martírio...
E se morri, o tempo não passou!
De mim, persiste ainda a luz que sonha...
Mãos dadas com o fel que me imolou
nas aras da ignomínia e da vergonha...
O tempo exalça ainda a impunidade
e é débil toda a voz que dá o alarme!
Se em mim persiste o grito da verdade...
...também a ira de crucificar-me!
José-Augusto de Carvalho
Alentejo, Páscoa de 2002.
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