(TEMPO DE SORTILÉGIO)
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O trágico delírio
Pintura que descreve o momento em que
a cavalaria portuguesa é cercada e envolvida
pelas forças muçulmanas.
Antiga, jaz a terra despojada.
O Sol em chamas --- arde o céu azul!
Dói em minh’alma ainda angustiada
o fascínio do Sul.
Que ceptros, que linhagens, que deidades
caminhos de desterro determinam?
Que feiras de opulências e vaidades
amanhãs exterminam?
Calaste a voz do Velho do Restelo
que no poema grita ainda viva.
Tragou-te o caos --- ergueste o pesadelo
duma pátria cativa.
No desamparo, a noite triste vela.
Na imensidão do céu, lucilam círios.
De Leste, o vento as nuvens acastela
predições e martírios.
Oh ânsia tresloucada de poder!
Oh trágico delírio a sucumbir
no palco inconquistado do não-ser,
em Alcácer-Quibir?
José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 28 de Abril de 1018.
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