Nas estradas e encruzilhadas da vida, liberto das roupagens da vaidade e da jactância, tento merecer esta minha condição de ser vivo.

domingo, 29 de abril de 2018

02 - POESIA VIVA * O trágico delírio



(TEMPO DE SORTILÉGIO) 


O trágico delírio 



Pintura que descreve o momento em que 
a cavalaria portuguesa é cercada e envolvida 
pelas forças muçulmanas. 





Antiga, jaz a terra despojada. 

O Sol em chamas --- arde o céu azul! 

Dói em minh’alma ainda angustiada 

o fascínio do Sul. 



Que ceptros, que linhagens, que deidades 

caminhos de desterro determinam? 

Que feiras de opulências e vaidades 

amanhãs exterminam? 



Calaste a voz do Velho do Restelo 

que no poema grita ainda viva. 

Tragou-te o caos --- ergueste o pesadelo 

duma pátria cativa. 



No desamparo, a noite triste vela. 

Na imensidão do céu, lucilam círios. 

De Leste, o vento as nuvens acastela 

predições e martírios. 



Oh ânsia tresloucada de poder! 

Oh trágico delírio a sucumbir 

no palco inconquistado do não-ser, 

em Alcácer-Quibir? 





José-Augusto de Carvalho 
Alentejo, 28 de Abril de 1018.

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