LIBERDADE E CIDADANIA
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Poema de Jorge de Sena
*
Liberdade, Liberdade,
Tem Cuidado Que Te Matam
Da prisão negra em que estavas
a porta abriu-se p´ra rua.
Já sem algemas escravas,
igual à cor que sonhavas,
vais vestida de estar nua.
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Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.
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Na rua passas cantando,
e o povo canta contigo.
Por onde tu vais passando
mais gente se vai juntando,
porque o povo é teu amigo.
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Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.
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Entre o povo que te aclama,
contente de poder ver-te,
há gente que por ti chama
para arrastar-te na lama
em que outros irão prender-te.
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Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.
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Muitos correndo apressados
querem ter-te só p´ra si;
e gritam tão de esganados
só por tachos cobiçados,
e não por amor de ti.
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Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.
.
Na sombra dos seus salões
de mandar em companhias,
poderosos figurões
afiam já os facões
com que matar alegrias.
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Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.
.
E além do mar oceano
o maligno grão poder
já se apresta p´ra teu dano,
todo violência e engano,
para deitar-te a perder.
.
Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.
.
Com desordens, falsidades,
economia desfeita;
com calculada maldade,
Promessas de felicidade
e a miséria mais estreita.
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Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.
.
Que muito povo se assuste,
julgando que és tu culpada,
eis o terrível embuste
por qualquer preço que custe
com que te armam a cilada.
.
Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.
.
Tens de saber que o inimigo
quer matar-te à falsa fé.
Ah tem cuidado contigo;
quem te respeita é um amigo,
quem não respeita não é.
.
Liberdade, liberdade,
tem cuidado que te matam.
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