Nas estradas e encruzilhadas da vida, liberto das roupagens da vaidade e da jactância, tento merecer esta minha condição de ser vivo.

sábado, 26 de novembro de 2011

06 - ROMANCEIRO * O muro







Pedra a pedra, levantas o muro.
Tanto assim a discórdia apetece?
Deste lado do muro, depuro
cada dia que a vida amanhece.



Pinceladas de cor e feitiço
das manhãs a florir madrigais
na menina que atreve um derriço
e se esconde a mentir os seus ais…



E negando arrebois ao futuro,
pedra a pedra, levantas o muro…





Meio-dia! No sino da Igreja,
badaladas precisam as horas.
Uma açorda fumega na mesa.
Faltas tu! Por que tanto demoras?



E negando arrebois ao futuro,
pedra a pedra, levantas o muro…



Pela tarde, sufoca o braseiro
deste sol que encandeia e nos cresta.
Arrojado, quem é o primeiro
a gritar que este rumo não presta?



E negando arrebois ao futuro,
pedra a pedra, levantas o muro…



Num altar de esperança exaltante,
é a vida que grita e palpita
contra as iras do vento ululante
e bandeiras de fúria e vindicta…



E negando arrebois ao futuro,
pedra a pedra, levantas o muro…




 
José-Augusto de Carvalho
25 de Novembro de 2011.
Viana*Évora*Portuga

1 comentário:

Conceição Paulino disse...

uma névoa de tristeza envolta em grande beleza.
Bjs