Na meninice tudo é doce; na idade moça ou na moça idade, de que decorre a palavra linda mocidade, tudo é perfume e deslumbramento de cores numa descuidada interpretação da existência; na idade adulta tudo é a descoberta de dificuldades, de contrariedades, de êxitos efémeros ou nem tanto, de frustrações e fugazes satisfações; a anciania é o pôr-do-sol e o subsequente vislumbrar da noite escura que vem aí.
Mais prosaica ou mais poética, a existência é esta caminhada para nenhures. O período entre a data da chegada e a data da partida é que importa avaliar. Que fiz eu da minha vida? Esta será uma pergunta difícil, mas é de todos nós. Que cada um, cotejados o deve e o haver, encontre o saldo definitivo.
Estarão perdidas as fantasias dos presentes no sapatinho, nas datas convencionais? Estará verificada a impossibilidade de voar metaforicamente no tapete voador com a Xerazade da nossa eleição? Estarão abandonadas desgraçadamente as esperanças na justeza, na meritocracia, no respeito pelo outro, no primado da dignidade? Será uma utopia consagrar de facto e de direito a defesa e a implantação dos direitos humanos?
E a verdade? Ah, esta palavra terrível que passa de boca em boca! Esta palavra ora absoluta, ora objectivamente relativizada. E aqui virá como exemplo porventura paradigmático o episódio bíblico que relata o encontro do Nazareno e Pilatos. O romano terá perguntado ao hebreu: o que é a verdade? E o Nazareno terá ficado mudo. Alguém se questionará sobre o motivo de tal mudez que atravessou dois milénios? Perante a pergunta de o representante máximo do Império Romano na Palestina seria ponderável uma resposta diferente do silêncio? Será que a verdade para o Império Romano ocupante poderia ser igual à verdade da Palestina ocupada?
Há palavras terríveis.
Há perguntas terríveis.
Há silêncios terrivelmente ensurdecedores.
José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 10 de Outubro de 2016.
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