Nas estradas e encruzilhadas da vida, liberto das roupagens da vaidade e da jactância, tento merecer esta minha condição de ser vivo.

sábado, 19 de janeiro de 2019

02 - POESIA VIVA * Memória do tempo parado


CANTO REVELADO 


Memória do tempo parado 









Para os Capitães que sonharam e continuam a sonhar Abril 





E tanto por dizer ficou estrangulado 

nas malhas do silêncio azul e da clausura! 

Do risco de falar ao de ficar calado, 

medrava em cada olhar o esgar duma censura. 



Era o tempo parado 

dos altares pagãos 

onde foi imolado 

por atávicas mãos 

o devir revelado. 



Difusa, em cada esquina, a sombra desenhava, 

na mancha que sangrava as pedras da calçada, 

o desvario insone e plúmbeo procurava 

a brisa que trazia a nova perfumada. 



Era o tempo parado 

dos desígnios fatais 

dum fantasma danado 

a negar os sinais 

do devir revelado. 



Ah, meu amigo, e tu, nos longes por haver, 

ainda do silêncio infausto tão distante, 

vivias, no mistério, a sedução de ser 

um astro mais do céu a lucilar errante. 



Era o tempo parado 

da vergonha de nós 

no estertor resignado 

e no medo sem voz, 

a render-se calado. 



Chegaste, agora, são e salvo, e o tempo é teu! 

Bem-vindo sejas! Vem, no tempo que em ti cresce, 

ser mais um cravo-Abril, que o dia amanheceu, 

e deixa-te orvalhar de auroras e floresce! 



José-Augusto de Carvalho 
19 de Maio de 2009. 
Alentejo * Portugal

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