Nas estradas e encruzilhadas da vida, liberto das roupagens da vaidade e da jactância, tento merecer esta minha condição de ser vivo.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

17 - POEMÁRIO * O elogio do poeta


TEMPO DE SORTILÉGIO 


O elogio do poeta 





Poeta sem diploma que te valha 

nem estatuto que te recomende 

na feira franca do consumo espalha: 

um verso não se compra nem se vende. 



Que a tua voz ressoe como um grito 

e assombre ou incendeie a multidão: 

um verso nunca pode ser maldito 

se nele fala livre um coração. 



Rebelde, o verso nunca se conforma 

com o silêncio inerte da mortalha. 

Se amante, faz da vida a sua norma, 

que tão-somente o puro Amor lhe valha! 



E o verso seja enleio enamorado, 

quando, pela tardinha, o sol declina, 

ou seja, ao meio-dia, um sol irado, 

quando inclemente cega a tremulina… 



Ou seja, no fulgor da rebeldia, 

a mesa, que sem pão, protesta -- basta! 

Ou seja o rio, em louca correria, 

que além das margens cresce e tudo arrasta!… 



Que um verso seja um verso além da rima! 

Que além do metro e ritmo, seja tudo! 

Importa que o poeta se redima… 

…e a redimir-se nunca fique mudo! 





José-Augusto de Carvalho 
9 de Janeiro de 2019. 
Alentejo * Portugal

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