Nas estradas e encruzilhadas da vida, liberto das roupagens da vaidade e da jactância, tento merecer esta minha condição de ser vivo.

terça-feira, 6 de setembro de 2016

02 - POESIA VIVA * O perene murmúrio




Eu não sei se a palavra é bastante
para abrir os portais do horizonte.
Não sei mais se esta sede te cante,
se o feitiço da múrmura fonte.


Alguém diz: a nascente secou.
Ninguém ouve ou ninguém quer ouvir.
A notícia ninguém confirmou,
ninguém sabe o que está para vir.


O silêncio baloiça hesitante
no abandono dos lábios gretados.
Não há sede nem fonte que cante
os portais que persistem fechados.


Vem tão quente o verão! É de lume!
Há um auto profano a pairar
sobre as levas que em dor e azedume
resignadas recusam ousar.


E a palavra que não é bastante
cai aos pés dos portais do horizonte…
Que esta sede já velha te cante
o perene murmúrio da fonte!




José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 6 de Setembro de 2016.

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