Nas estradas e encruzilhadas da vida, liberto das roupagens da vaidade e da jactância, tento merecer esta minha condição de ser vivo.

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

02 - POESIA VIVA * Perguntas de um cidadão vulgar




Na esteira de Brecht…

Perguntas de um cidadão vulgar


Quem enlutou Granada, a cidade amada do poeta?

Nos livros, todos lavam as mãos, como Pilatos.

Onde foi sepultado o poeta e com ele o feitiço da Poesia?

Os livros nada dizem e eu não posso ir chorar no seu túmulo ensanguentado.


*

Badajoz tem uma praça de touros assombrada.

Quem entregou os patriotas vencidos ao pelotão de fuzilamento dos fascistas?


*

Era dia de mercado em Guernica, a vila basca.

Em nome de que causa aviões lançam bombas sobre mulheres e crianças?


*

Espanha ficou viúva.

Onde estavam os autoproclamados arautos da liberdade dos povos?


*

Depois da carnificina, o carniceiro recebeu felicitações pela vitória.

Que vitória?

Quem felicitou?


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O povo de Espanha em vão pediu auxílio a Paris.

A neutralidade cúmplice impôs a sua lei e Espanha ficou sozinha.

Um ano depois, os nazis desfilavam em Paris.

A neutralidade serve-se fria.


*

Quando a besta caiu, cantaram loas à liberdade,

mas nenhuma das vítimas caídas cantou.

*

Quando o Coronel Arbenz caiu, a Nicarágua caiu com ele.

O católico Arbenz foi claro: a Nicarágua está muito longe de Deus

e muito perto dos Estados Unidos da América.

Acta da Assembleia Geral da ONU regista. Quem sabe disto?


*

1973. Chove em Santiago!

O Governo Popular caiu em 11 de Setembro.

Allende tombou nos escombros do palácio presidencial bombardeado.

Hoje, os jornais não dizem nada.

Hoje, as rádios não dizem nada

Hoje, as televisões não dizem nada


*

O terrorismo é uma chaga.

O terrorismo de estado é uma chaga.

6 de Agosto de 1945, adeus Hiroshima!

9 de Agosto de 1945, adeus Nagazaki!

Mais de quinhentas mil vítimas da agressão nuclear.

Barbaridade? Não, foi a guerra…

*

2001, o terrorismo afronta o Tio Sam.

Três mil vítimas indefesas. Paz às suas almas!

E os jornais escrevem, chorosos.

E as rádios falam, chorosas.

E as televisões, chorosas, dão imagens da barbárie.

Por que são choradas apenas algumas das vítimas da barbárie?

*
Tantas perguntas sem resposta!

*
José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 11 de Setembro de 2016.

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