Eu canto o dia de hoje,
que me foge
no decantar efémero das horas...
Eu canto o tempo doce
que me trouxe
o paladar silvestre das amoras.
Eu canto porque existo
e resisto
ao desencanto estéril das demoras.
Eu canto a solidão
da canção
que ouvi dolente no gemer das noras.
Eu canto as esperanças
das crianças
que de vermelho vestem as auroras.
Eu canto a liberdade
sobre a grade
da servidão onde vergado moras.
Eu canto e no meu canto
há o espanto
que marca em todo o mundo as mesmas horas.
José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 2006.
In «Harpejos», a publicar