Jornal TORNADO
OPINIÃO / REGIÕES
Além Tejo (1)
TEXTO: MARIA DO CÉU PIRES ·
6 MARÇO, 2016
São crenças rígidas que dão uma imagem simplista de determinada realidade e, ao atribuírem a todos os membros de um grupo uma certa característica, ignoram outras importantes e esquecem, igualmente, o facto de que cada pessoa é um ser único.
Posto isto, direi que o Além Tejo é, para mim, uma pátria. A Pátria Transtagana de que fala o poeta José-Augusto de Carvalho.
Tem uma identidade própria (que integra a identidade social de todos os que aqui nascem) e que deve ser encarada não como algo estático pairando num etéreo céu intemporal mas como uma construção espácio-temporal e em relação com outros grupos culturais.
Não nos podemos afirmar como alentejanos sem conhecermos a nossa história e como se edificou, como continua a ser feita do cruzamento de muitas outras histórias.
Sim, porque se Além Tejo é açorda e migas, é também a razão de ser delas, da açorda e das migas… e de tudo o que à sua volta gira…
O meu Além Tejo é a pátria da resiliência, de uma longa caminhada de luta pela justiça, dos senhores e dos servos, das praças de jorna e das greves pelas 8 horas de trabalho.
É a dor e o sofrimento dos tempos negros, o desenho da esperança que, apesar dos seus erros, foi a Reforma Agrária.
Aqui nunca se aceitou a desigualdade como coisa natural, sempre se enfrentou a ignomínia, por vezes com sangue ou até com a vida.
Sempre se exigiu aquilo que, por direito, é devido a cada ser humano. Como já escrevi num outro lugar, aqui é o lugar do sonho por uma “terra irmãmente lavrada e cuidada”.
Para além da paisagem e da gastronomia, há um património de valores que se torna importante preservar pois em tempos de mediocridade e de individualismo como os que hoje se vivem, é importante não esquecer os seres humanos íntegros e honrados que habitaram esta planície.
A maior solidão e a maior solidariedade estão em nós, são a nossa riqueza. Por isso, somos “levantados do chão”.
Também por isso, ninguém poderá compreender nem escrever sobre o Além Tejo sem antes ler Manuel da Fonseca!
O resto é ignorância que não vale a pena comentar…
Sem comentários:
Enviar um comentário