Goya, guerra, 1814
Vivi os tempos escuros,
quando as palavras proscritas
amanheciam nos muros
as verdades interditas.
Vivi os tempos parados,
quando o medo proibia
os alvores incendiados
da manhã que amanhecia.
Vivi os tempos cinzentos,
monotonia incolor
negando aos olhos sedentos
caleidoscópios de cor.
Vivi os tempos sem horas
dos relógios sem ponteiros
eternizando em demoras
o poder dos carcereiros.
Vivi a aurora vestida
de pétalas carmesim
e acreditei que era a Vida
que sorria para mim.
Vivi depois o desgosto
de me darem a beber
vinagre que não o mosto
que a aurora dizia ser.
E vivi o despertar,
que sempre o sonho envenena,
de armas na mão, a gritar
que o sonho não vale a pena.
Fiquei incrédulo e aflito
com semelhante dislate!
Este sonho em que acredito
adia-se, mas não se abate.
José-Augusto de Carvalho
28 de Março de 2015
Alentejo * Portugal
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