Nas estradas e encruzilhadas da vida, liberto das roupagens da vaidade e da jactância, tento merecer esta minha condição de ser vivo.

sábado, 11 de junho de 2016

02 - POESIA VIVA * Rimance de um homem aflito

Goya, guerra, 1814




Vivi os tempos escuros,

quando as palavras proscritas

amanheciam nos muros

as verdades interditas.



Vivi os tempos parados,

quando o medo proibia

os alvores incendiados

da manhã que amanhecia.



Vivi os tempos cinzentos,

monotonia incolor

negando aos olhos sedentos

caleidoscópios de cor.




Vivi os tempos sem horas

dos relógios sem ponteiros

eternizando em demoras

o poder dos carcereiros.




Vivi a aurora vestida

de pétalas carmesim

e acreditei que era a Vida

que sorria para mim.




Vivi depois o desgosto

de me darem a beber

vinagre que não o mosto

que a aurora dizia ser.




E vivi o despertar,

que sempre o sonho envenena,

de armas na mão, a gritar

que o sonho não vale a pena.




Fiquei incrédulo e aflito

com semelhante dislate!

Este sonho em que acredito

adia-se, mas não se abate.






José-Augusto de Carvalho
28 de Março de 2015
Alentejo * Portugal

Sem comentários: